quinta-feira, 4 de agosto de 2011

TEMA DE REDAÇÃO PARA DISCUSSÃO EM AULA NOS DIAS 10 E 11 DE AGOSTO

Atenção Turma 2: A aula do dia 10 de agosto(quarta-feira) começará às 17h20 (e não às 17h40)




Leia atentamente o texto a seguir e extraia dele o tema sobre o qual você escreverá um texto dissertativo-argumentativo. Para o desenvolvimento de seu texto, utilize as ideias contidas na coletânea e outras de que você dispuser.

A fome — eis um problema tão velho quanto a própria vida. Para os homens, tão velho quanto a humanidade. E um desses problemas que põem em jogo a própria sobrevivência da espécie humana, a qual, para garantir sua perenidade, tem que lutar contra as doenças que a assaltam, abrigar-se das intempéries, defender-se dos seus inimigos. Antes de tudo, porém, precisa, dia após dia, encontrar com que subsistir — comer. E esta necessidade, é a fome que se encarrega de lembrá-la. Sob o seu ferrão e para lutar contra ela, a humanidade aguçou seu gênio inventivo. Ninguém o ignora. E todo mundo sabe também que, nesse velho combate contra esta praga permanente, o homem conseguiu apenas uma vitória incerta e precária.

(André Mayer, em Prefácio a nona edição do livro “Geografia da Fome”, de Josué de Castro.) * André Mayer é professor da Universidade de Paris, ex-presidente do Conselho


COLETÂNEA:

1. “A fome e a desnutrição não é uma ocorrência natural, mas resultado das relações sociais e de produção que os homens estabelecem entre si”. (Josué de Castro)


2. “Crescer economicamente é relativamente fácil. Difícil é desenvolver um país. Tanto é que a fome e a miséria persistem, apesar de a humanidade ter todos os recursos - tecnológicos, científicos e financeiros - para exterminá-las". (Josué de Castro - médico e geógrafo -, Geografia da Fome 1940)


3. O tema da agenda central do G-20 não é a guerra cambial entre os Estados Unidos e a China. Não é, também, a nova regulação do sistema financeiro internacional. Os países do fórum que vem tomando o lugar do G-7 têm uma preocupação prioritária, que é a segurança alimentar. (“G-20 coloca a segurança alimentar no topo de sua agenda”, Mundo, abril 2011)


4. A segurança alimentar (do inglês Food Security) trata da implementação de políticas públicas para garantir o acesso da população aos alimentos em quantidade e qualidade adequadas. É norteada por questões de interesse globais como as mudanças climáticas, os biocombustíveis e a escassez de recursos naturais, destacando as possíveis implicações na produção e na disponibilidade dos alimentos para a população. De acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), a segurança alimentar existe quando todas as pessoas, em todo o tempo, possuem acesso físico e econômico à alimentação suficiente, saudável e nutritiva, para atender suas necessidades dietéticas e preferências alimentares para uma vida ativa e saudável. Considerando estatísticas da FAO, no mundo, aproximadamente 852 milhões de pessoas sofrem com fome crônica devido à pobreza extrema, e para dois bilhões de pessoas falta o acesso intermitente aos alimentos, devido aos vários graus de pobreza. (“Segurança alimentar X segurança de alimentos”, Casiane Salete Tibola & Anderson Santi, em 02, 08, 2011)


5. A escalada de preços dos alimentos nos últimos meses tem chamado a atenção da comunidade internacional. Segundo a Organização para a Agricultura (FAO), em 2010, o valor das commodities agrícolas registrou uma alta de quase 25%, atingindo o patamar mais elevado desde 1990. Em 2011 e nos próximos anos, é provável que a alta do preço dos alimentos continuará sendo um dos principais fatores para o aumento das pressões inflacionárias em todo o mundo – penalizando os segmentos mais pobres da população mundial, justamente aqueles que empregam a maior parte de suas rendas no item alimentação. (“Especulação financeira pressiona preços de comida”, Mundo, abril 2011)



6. A fome - Crise ou escândalo? - 2ª edição, de Melhem Adas: Esta obra levanta e discute essa escandalosa e vergonhosa realidade. Refuta as conservadoras teses de que a fome resulta do crescimento populacional "acelerado" dos países subdesenvolvidos e das condições naturais adversas, de que a produção mundial de alimentos é insuficiente para atender a todos, e de que a liberalização do comércio, a revolução verde e os organismos geneticamente modificados constituem a grande esperança para erradicar a fome, além de outras questões. O livro demonstra que a fome é uma criação humana diretamente relacionada com o tipo de civilização que construímos, que é fundamentalmente um grande e sério problema político, econômico e social, e que sua existência ainda nos dias atuais é a prova contundente do fracasso de nossa civilização.
(Em http://www.modernaliteratura.com.br/moderna/book.php?id_titulo=10018681>, 02/08/2011)


7. Carta Capital: A crise financeira internacional atingiu mais as economias desenvolvidas do que o mundo em desenvolvimento, mas parece ter reconfigurado os mercados internacionais de commodities agrícolas, ao estabelecer patamares mais elevados para os preços dos alimentos. Qual o impacto desse cenário para as populações mais pobres?
José Graziano: Na maior parte do mundo, a fome é um problema de acesso: existe comida suficiente, mas o que muitas vezes falta é o dinheiro para comprá-la. Famílias pobres chegam a gastar até 70% de sua renda em alimentos, daí a importância de reforçar as redes de proteção social, especialmente em épocas de alta de preços. No entanto, se isso não for acompanhado de programas de inclusão produtiva, dificilmente as famílias conseguirão manter-se acima da linha da pobreza, graças a seu próprio esforço. Para grandes exportadores de alimentos, a alta dos preços representa uma oportunidade. O desafio é utilizar isso em benefício da inclusão social. Mas o lucro com os preços mais altos nem sempre- chega até os agricultores familiares, muitas vezes ficando com intermediários do processo. Também é importante lembrar que a atual alta dos preços vem acompanhada de um aumento na volatilidade. Sem saber a que preço poderão vender sua safra, muitos agricultores têm receio de investir.
(Trecho da entrevista de José Graziano à Carta Capital).Em: http://www.cartacapital.com.br/politica/grazianoexiste-comida-suficiente-mas-o-que-muitas-vezes-falta-e-o-dinheiro-para-compra-la)
* José Graziano foi eleito, em 26/06/2011, diretor-geral da FAO.


8. O direito à alimentação e à proteção contra a fome é há muito tempo reconhecido em acordos internacionais (multilaterais e regionais). O artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas estabelece claramente a segurança alimentar entre os direitos humanos fundamentais. Contudo, ainda não se dispõe de mecanismos que o tornem efetivo.
Uma das propostas para a formalização do direito à alimentação é a de criar um código de conduta para reger o comportamento dos que estão implicados na realização do direito à alimentação, cujo conteúdo legal e os compromissos dos Estados constariam da convenção internacional relativa aos direitos econômicos, sociais e culturais. Na mesma direção vai a proposta de uma convenção global de segurança alimentar no âmbito das Nações Unidas que a coloque em alta prioridade nas leis internacionais e a faça respeitada por todos os organismos, particularmente a OMC (Organização Mundial do Comércio), ao mesmo tempo apoiando os planos nacionais de segurança alimentar. Trata-se, contudo, de um processo longo e complexo de mobilização de energia política e de negociação.
(“Caderno de segurança alimentar.” Renato S. Maluf - CPDA/UFRRJ, Brasil e Francisco Menezes - IBASE, Brasil -. Com a colaboração de Susana Bleil Marques. Em: http://www.dhnet.org.br/direitos/sos/alimentacao/tconferencias.html)


9. Tem gente com fome - Poema de Solano Trindade
Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Piiiiii
Estação de Caxias
de novo a dizer
de novo a correr
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Vigário Geral
Lucas
Cordovil
Brás de Pina
Penha Circular
Estação da Penha
Olaria
Ramos
Bom Sucesso
Carlos Chagas
Triagem, Mauá
trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Tantas caras tristes
querendo chegar
em algum destino
em algum lugar
Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Só nas estações
quando vai parando
lentamente começa a dizer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
Mas o freio de ar
todo autoritário
manda o trem calar
Psiuuuuuuuuuuu


(...)
O poema se utiliza do trajeto que o trem realiza pelos subúrbios do Rio de Janeiro ao sair da Estação Leopoldina em direção à Estação Mauá. O que chama a atenção nesse trajeto ferroviário? A desigualdade social estampada no rosto de seus passageiras, no cenário desolador que se vê pela janela, nas precárias condições que possui o trem que carrega a força de trabalho da nossa sociedade.
Através da aliteração, o poeta dá voz a esse retrato, imprimindo ritmo aos versos através das sonoridades características do trem. Nos cinco primeiros versos o autor descreve o cenário que representa as carências da população (“tem gente com fome”) e ao citar o nome de todas as estações sinaliza para a amplitude do problema. Nos dois versos finais indica que há um clamor por justiça, que pode representar o desenvolvimento da consciência desse trabalhador explorado ao refletir sobre esse cenário (“se tem gente com fome, dá de comer”). Porém ao final do trajeto, esse desenvolvimento é interrompido pelo “freio de ar” que “todo autoritário manda o trem calar”, clara alusão a todo o aparato repressivo dominante e possivelmente a todas as formas de dominação, que não só a repressão.
A última estrofe não necessariamente sentencia o destino daqueles que vivem esta cotidianidade que parece não ter fim. O trem, sempre em movimento, voltará à Leopoldina e passará novamente pelo cenário descrito e o trabalhador em algum momento poderá fazer o trem prosseguir por novos trilhos, sem freios rumo à libertação de fato do povo explorado. (http://www.ceep.org.br/espaco-de-formacao/materiais-de-apoio-ao-docente, 02/08/2011)








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