quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Cibercultura e ciberespaço

Cibercultura
LÉVY, P. Trad. Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Editora 34, 1999. 260 p.
REDE
Pensar a cibercultura: esta é a proposta deste livro. Em geral me consideram um otimista. Estão certos. Meu otimismo, contudo, não promete que a Internet resolverá, em um passe de mágica, todos os problemas culturais e sociais do planeta. Consiste apenas em reconhecer dois fatos. Em primeiro lugar, que o crescimento do ciberespaço resulta de um movimento internacional de jovens ávidos para experimentar, coletivamente, formas de comunicação diferentes daquelas que as mídias clássicas nos propõem. Em segundo lugar, que estamos vivendo a abertura de um novo espaço de comunicação, e cabe apenas a nós explorar as potencialidades mais positivas deste espaço nos planos econômico, político, cultural e humano. (p.11)
INTERCONEXÃO DE MENSAGENS
A hipótese que levanto é a de que a cibercultura leva a co-presença das mensagens de volta a seu conexto como ocorria nas sociedades orais, mas em outra escala, em uma órbita completamente diferente. A nova universalidade não depende mais da auto-suficiência dos textos, de uma fixação e de uma independência das significações. Ela se constrói e se estende por meio da interconexão das mensagens entre si, por meio de sua vinculação permanente com as comunidades virtuais em criação, que lhe dão sentidos variados em uma renovação permanente. (p.15)
COMUNICAÇÃO DIGITAL
O ciberespaço (que também chamarei de "rede") é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo especifica não apenas a infra-estrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo. Quanto ao neologismo "cibercultura", especifica aqui o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço. (p.17)
COMUNIDADES VIRTUAIS
Do mais básico ao mais elaborado, três princípios orientaram o crescimento inicial do ciberespaço: a interconexão, a criação de comunidades virtuais e a inteligência coletiva. (p.127)
A interconexão para a interatividade é supostamente boa, quaisquer que sejam os terminais, os indivíduos, o lugares e momentos que ela coloca em contato. As comunidades virtuais parecem ser um excelente meio (entre centenas de outros) para socializar, quer suas finalidades sejam lúdicas, econômicas ou intelectuais, quer seus centros de interesse sejam sérios, frívolos ou escandalosos. A inteligência coletiva, enfim, seria o modo de realização da humanidade que a rede digital universal felizmente favorece, sem que saibamos a priori em direção a quais resultados tendem as organizações que colocam em sinergia seus recursos intelectuais.
REDE DIGITAL
Qualquer reflexão sobre o futuro dos sistemas de educação e de formação na cibercultura deve ser fundada em uma análise prévia da mutação contemporânea da relação com o saber. Em relação a isso, a primeira constatação diz respeito à velocidade de surgimento e de renovação dos saberes e savoir-faire...
A segunda constatação, fortemente ligada à primeira, diz respeito à nova natureza do trabalho, cuja parte de transação de conhecimentos não pára de crescer...
Terceira constatação: o ciberespaço suporta tecnologias intelectuais que amplificam, exteriorizam e modificam numerosas funções cognitivas humanas: memória... imaginação... percepção... raciocínio. (p.157)
PRESENÇA VIRTUAL
A cibercultura expressa uma mutação fundamental da própria essência da cultura. De acordo com a tese que desenvolvi neste estudo, a chave da cultura do futuro é o conceito de universal sem totalidade. Nessa proposição, "o universal" significa a presença virtual da humanidade para si mesma. O universal abriga o aqui e agora da espécie, seu ponto de encontro, um aqui e agora paradoxal, sem lugar nem tempo claramente definíveis.... O horizonte de um ciberespaço que temos como universalista é o de interconectar todos os bípedes falantes e fazê-los participar da inteligência coletiva da espécie no seio de um meio ubiqüitário. (p.247)
COMUNIDADE MUNDIAL
A cibercultura mantém a universalidade ao mesmo tempo em que dissolve a totalidade. Corresponde ao momento em que nossa espécie, pela globalização econômica, pelo adensamento das redes de comunicação e de transporte, tende a formar uma única comunidade mundial, ainda que essa comunidade seja - e quanto! - desigual e conflitante. Única em seu gênero no reino animal, a humanidade reúne toda sua espécie em uma única sociedade. Mas, ao mesmo tempo, e paradoxalmente, a unidade do sentido se quebra, talvez porque ela comece a se realizar na prática, pelo contato e a interação efetivos. Conectadas ao universo, as comunidades virtuais constróem e dissolvem constantemente suas micrototalidades dinâmicas, emergente, imersas, derivando entre as correntes turbilhonantes do novo dilúvio. (p.249)
APRENDIZAGEM COOPERATIVA
O uso crescente das tecnologias digitais e das redes de comunicação interativa acompanha e amplifica uma profunda mutação na relação com o saber. Ao prolongar determinadas capacidades cognitivas humanas (memória, imaginação, percepção), as tecnologias intelectuais com suporte digital redefinem seu alcance, seu significado, e algumas vezes até mesmo sua natureza. As novas possibilidades de criação coletiva distribuída, aprendizagem cooperativa e colaboração em rede oferecidas pelo ciberespaço colocam novamente em questão o funcionamento das instituições e os modos habituais de divisão do trabalho, tanto nas empresas como nas escolas.
Como manter as práticas pedagógicas atualizadas com esses novos processos de transação de conhecimento? Não se trata aqui de usar as tecnologias a qualquer custo, mas sim de acompanhar consciente e deliberadamente uma mudança de civilização que questiona profundamente as formas institucionais, as mentalidades e a cultura dos sistemas educacionais tradicionais e sobretudo os papéis de professor e de aluno. (p. 172)
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-32832000000100015&script=sci_arttext

Ciberespaço
Segundo a Wikipédia o Ciberespaço é o ambiente criado de forma virtual, através do uso dos meios de comunicação modernos, destacando-se, entre eles, a Internet. Esse fenômeno se deve ao fato de, nos meios de comunicação modernos, haver a possiblidade de pessoas e equipamentos trocarem informações das mais variadas formas sem preocupações.
É importante se fazer uma diferenciação entre Ciberespaço e Internet. A Internet é a infra-estrutura técnica composta de cabos, fios, redes, computadores, etc., e o ciberespaço é a forma de utilizar a infra-estrutura existente.
Como o termo surgiu?
O termo surgiu com o autor de ficção científica, Willian Gibson, em 1984, no livro "Neuromancer". Foi utilizado para designar um ambiente artificial onde dados e relações sociais trafegam indiscriminadamente. Para Gibson, ciberespaço é um espaço não físico no qual uma alucinação consensual pode ser experimentada diariamente pelos usuários.
Para Levy, o ciberespaço é definido como o espaço de comunicação formado pela interconexão mundial dos computadores e das suas memórias. Constitue um espaço virtual de trocas simbólicas entre pessoas. Pode ser entendido como o espaço de troca de informação na cultura contemporânea.
Como pode ser compreendido?
Atualmente o ciberespaço pode ser compreendido a partir de duas perspectivas: a) como a rede, ou seja, como a via expressa de informação através da conexão de computadores em rede; b) como realidade virtual.
No ciberespaço experimentamos inúmeras possibilidades do mundo real.
É um novo espaço de sociabilidade - gera novas formas de relações sociais, com códigos e estruturas próprias.
Implicações na dinâmica da vida social
No ciberespaço o espaço de fluxo realiza um processo de desmaterialização das relações sociais. Isso implica na reconfiguração do conceito de tempo e espaço, visto que, a materialidade social só existe no tempo e no espaço. Em outras épocas, espaço e lugar coincidiam em geral e a vida social realizava-se em interações presentes, face-a-face. O ciperespaço rompe com esse conceito. O tempo é marcado pela presentificação ou seja pela interatividade online.
Outra mudança está associada, em termos geográficos, as fronteiras diluídas mas também novos espaços de sociabilidade promovidos, novos territórios, novas identidades e práticas sociais.
O ciberespaço promove LUGARES e NÃO-LUGARES
•NÃO-LUGARES
-Podem ser definidos como espaços onde não se permanece, mas se estabelece um percursos para se chegar a um destino (browsers e motores de pesquisa) – meios de transporte, aeroportos, etc.
-O endereço do e-mail não corresponde a um local determinado, mas sim a uma chave eletrônica de acesso a alguma caixa de mensagem, localizada em algum computador, em algum ponto da rede.
•LUGARES
-Definem-se no sentido antropológico, em que existe espaço para a relação interpessoal e para a organização social.
Outras mudanças estão associadas novas formas de sociabilidade que é marcada pelo anonimato.
O ciberespaço faz emergir uma socialidade que se contrapõe a uma sociabilidade do mundo real.
Além do anonimato busca-se também o desejo de não estar só.
http://criacaocolaborativa.blogspot.com/2007/03/o-ciberespao.html

CIBERCULTURA
CIBERCULTURA: CARACTERÍSTICAS, CONTEXTOS E ETIMOLOGIA NA TRANSDISCIPLINARIDADE
Delimitar termo e campo da cibercultura, como anteriormente indicado, implica a compreensão de um significativo volume conceitual correlacionado.
Inicialmente, e antes de buscar algumas definições autorais para a cibercultura, apresentamos a nuvem temática que representa, na medida de nossa proposição inicial de reflexão, o conjunto de conceitos, campos e definições que gravitam em torno da cena cibercultural.
Poderíamos afirmar que, diante da diversidade e amplitude conceitual, o campo da cibercultura é da ordem da transdisciplinaridade?
É possível, portanto, não apenas afirmar a ordem transdisciplinar da cibercultura, como também sustentar a proposição deste trabalho em realizar uma justaposição de fragmentos temáticos que constroem nosso olhar sobre o tema. A diversidade de conceitos de cibercultura que encontramos na literatura também reflete a característica transdisciplinar.
Pierre Lèvy (1999, p. 17), um autor bastante referenciado entre pesquisadores do tema, tem uma visão de universalidade para a cibercultura caracterizando-a como "um conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço". Se levarmos em conta o caráter sociotécnico que o autor atribui à cibercultura e que ele entende o ciberespaço como a própria rede, o que assistimos, mais de dez anos após a conceituação de Lèvy, é a uma crescente evidência da rede como ambiência para o estabelecimento de arenas e espaços de sociabilidade. Uma paradoxal materialização da virtualidade na sociedade contemporânea.
Lemos (2002), Rüdiger (2008), Felinto (2007) e Amaral (2007) compõem significativo grupo de pesquisadores brasileiros dedicados aos estudos ciberculturais inseridos no campo da comunicação, conceituam cibercultura na coerente linha da universalidade coletiva semeada por Lèvy. Nesse conjunto de referências encontramos conexões estreitas com a evolução das TICs e com a emergência de campos de experiências em sociabilidade, incluindo aí a comunicação humana. Lemos (2002, p. 64) insere, ainda, as variáveis de compressão do tempo e do espaço como aspectos fundantes da cena cibercultural, possibilitando a experiência da imediatez do tempo real.
O prefixo "ciber" parece ser o elo etimológico entre a técnica e os processos de sociabilidade. Apresenta-se em diferentes significados - ciberespaço, cibercultura, ciberpunk, cibersex, entre muitos - como operador da experiência virtual referente ao substantivo vinculado.
No caso específico de cibercultura - termo da contemporaneidade - vamos às origens combinadas do grego (kybernan ou kubernan) e do latim (colere) para compreender o sentido subjacente do termo que se concretiza em nossa rotina digitalizada. Sistematizando:
Na vertente grega emerge o significado "arte de governar e pilotar", atribuindo ao prefixo o inerente caráter de controle; na vertente latina colere reflete a ideia de cultivar e revolver a terra e, mais adiante, evolui para a ideia de habitar e cuidar da natureza em cultivo. É a ação humana (ordenada, procedural e, portanto, controladora) sobre os frutos de sua natureza (materiais e intelectuais).
Tal etimologia permaneceu presente em seu significado fundante ao longo da evolução histórica dos processos de ordenação técnica dos frutos intelectuais gerados pelo homem até a cibercultura contemporânea.
http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?pid=S0103-99892010000300002&script=sci_arttext&tlng=pt