sábado, 16 de março de 2013

LEITURA PARA REESCREVER REDAÇÃO SOBRE O TEMA: "MÍDIA E ESPETÁCULO: OS LIMITES ENTRE INFORMAÇÃO E SENSACIONALISMO"


 
A chacina que vitimou 12 crianças e adolescentes na Escola Municipal Tasso da Silveira, no bairro do Realengo, no Rio de Janeiro, ratificou, mais uma vez, a espetacularização com que incidentes do gênero vêm sendo noticiados pela imprensa brasileira. Permeada por variáveis doses de sensacionalismo e ancorada em uma linguagem apelativa, a mídia eletrônica, que conta com grande adesão da sociedade, não poupou artifícios para atrair a audiência.
Embora seja uma atividade de interesse público, o jornalismo comercial é viabilizado pelo interesse privado.
O conflito é inevitável. Na cobertura do episódio, o confronto entre o interesse público e o privado se sobressaiu nos excessos cometidos pela mídia, que seleciona e narra a informação, definindo os interlocutores e os parâmetros do que deve ser considerado socialmente relevante. Nos moldes em que foi apresentada pelos grandes veículos noticiosos, a cobertura deixou muito a desejar ao efetivo interesse público.
A Constituição Federal denomina o Brasil como um Estado Democrático de Direito, contemplando, no rol de seus fundamentos, a cidadania. Desta forma, espera-se que os meios de comunicação estabeleçam uma relação de respeito com o público, tratando-o como cidadão e não sob a ótica de mero consumidor de notícia. Considerada um direito social, a informação é inerente à cidadania e indispensável à vida em sociedade. Sua utilidade está vinculada à concretização de outros direitos, como o direito à segurança e à educação, os quais podem ser observados no caso em questão.
Entretanto, a história se repete: não são poucos os casos de barbaridades cometidas pela TV ao veicular notícias referentes a acontecimentos trágicos, visando elevar índices de audiência. Não é novidade que o jornalismo atua tanto sob a visão de serviço público quanto de negócio, equilibrando-se entre os pólos ideológico e econômico, sendo que este último define a empresa jornalística como uma indústria subordinada ao lucro, aprofundando o caráter da notícia como mercadoria. Todavia, à medida que ocorre esta subordinação, questiona-se se o jornalismo como negócio privado estaria apto a desempenhar o papel de promotor da cidadania e de mediador das informações de interesse público. Tal situação é patente ao se analisar a cobertura da chacina no Rio de Janeiro.
São legítimos a curiosidade e o interesse das pessoas em serem informadas sobre episódios do gênero. O problema surge com a exposição de facetas da tragédia que excede o limite do bom senso. Apresentadores de telejornais saem de suas habituais bancadas para explorar a dor alheia, retratando a fase pós-traumática daqueles que sobreviveram à tragédia e de quem chora a perda de amigos e familiares. Instaura-se o teledrama como parte da estratégia que alavanca a audiência e causa comoção ao público, validando toda sorte de artimanhas para atingir o resultado desejado. Primeiramente, a mídia eletrônica requer imediatismo, o que, muitas vezes, inviabiliza a adequada apuração do acontecimento, incorrendo erros e informações desencontradas nas primeiras notícias veiculadas. Seguem-se, então, entrevistas com os protagonistas sobreviventes da tragédia; depoimentos de parentes e amigos das vítimas, no estilo “arquivo confidencial” de um programa de entretenimento; imagens das crianças baleadas saindo apavoradas das salas de aula; vídeo amador, retratando o momento da tragédia com toda a movimentação intrínseca a ela e, como se este não bastasse, a exibição, com direito até a chamada apelativa, da reconstituição do crime, instituto previsto pelo Código de Processo Penal e utilizado pela polícia judiciária para fazer a reprodução simulada dos fatos, visando esclarecer determinados aspectos ainda desconhecidos; fotos do corpo do assassino estirado no chão após seu suicídio; análise da mente do assassino a partir da carta encontrada em seus pertences, sendo o bullying, bola da vez na imprensa mundial, a justificativa mais plausível para explicar o incidente que é relembrado o tempo todo pela mídia; e assim por diante.
Tamanho espetáculo propiciado pela mídia aos seus expectadores extrapola o interesse público, ainda que satisfaça ao interesse do público, haja vista que este, em seu íntimo, muitas vezes alimenta o gosto pela tragédia. A cobertura jornalística que opta por esta abordagem ainda carece de tratamento diferenciado, em que a qualidade técnica e os valores éticos dos profissionais da comunicação se sobreponham aos excessos do interesse privado, os quais devem ser coibidos por uma sociedade verdadeiramente democrática.
Este texto foi postado em sábado, abril 30th, 2011 às 12:29 e está arquivado sob crítica de mídia. Você pode acompanhar as respostas a este texto através de RSS 2.0 feed. Responses are currently closed, but you can recuperar dados por meio de sua própria página.

http://www2.faac.unesp.br/blog/obsmidia/2011/04/30/sobre-os-limites-entre-interesse-publico-e-sensacionalismo/

Tragédia em Santa Maria

28.01.2013 13:40

O cinismo da mídia

por Aurélio Munhoz*
Passadas as primeiras 24 horas após o incêndio que destruiu 231 jovens em uma casa de shows em Santa Maria (RS), o Brasil foca suas atenções agora na identificação dos culpados por mais esta inominável tragédia urbana.
Incêndio em boate deixa mais de 232 mortos em Santa Maria (RS). Foto: Deivid Dutra/ A Razão/Agência Brasil
Incêndio em boate deixa mais de 232 mortos em Santa Maria (RS). Foto: Deivid Dutra/ A Razão/Agência Brasil
Natural que seja assim. O que aconteceu neste domingo na cidade gaúcha foi fruto de uma coleção de indefiníveis aberrações que, por sua extrema gravidade, causam indignação e merecem punição rigorosíssima.
Ocorre que não são apenas os donos ou os seguranças da casa de shows, tampouco a Prefeitura de Santa Maria e o Corpo de Bombeiros, que merecem condenação. O papel que grande parte da mídia está exercendo diante deste drama humano de proporções colossais, a exemplo do que tem feito em relação a tantos outros, também se revela abjeto e passível de duríssimas críticas.
A mídia tem todo o direito – e, mais que isto, o dever – de noticiar tragédias como a que estamos acompanhando, ao vivo e em cores. Fornecer informações de interesse público é uma das suas atribuições. A morte de 233 seres humanos, ainda mais nas circunstâncias verificadas na casa de shows é, obviamente, digna de uma extensa cobertura porque interessa a um expressivo segmento da sociedade.
As escolas de jornalismo sérias ensinam, porém, que o tratamento de assuntos desta natureza pressupõe cuidado extremo. Não por acaso. É tênue, muito tênue, o limite que separa a informação de interesse público da notícia convertida em espetáculo com objetivos escusos.

Infelizmente, muitos colegas da imprensa (deliberadamente, inclusive) romperam este limite no caso em análise. Boa parte da mídia está fazendo a cobertura da tragédia de Santa Maria não com o nobre propósito que deveria motivá-la – garantir que aberrações como esta não se repitam, algo possível por meio da divulgação permanente de informações corretas e isentas, fruto de pesquisa e investigação sérias, revelando seu compromisso com a sociedade.
Seu propósito é outro – absolutamente vil, porque imoral e oculto: converter a tragédia dos meninos de Santa Maria em um grande espetáculo midiático com o objetivo de garantir audiência cativa. De preferência, às custas das lágrimas do público. É o que se chama, em Teoria da Comunicação, de “espetacularização” da notícia, ou seja, a sua conversão em um agente não do bom jornalismo, mas do entretenimento e do cinismo, porque dá a falsa impressão de que o compromisso primeiro desta mídia é com o público, quando o é de fato, acima de tudo, com seus patrocinadores.
É um Big Brother de verdade, formado não por beldades vulgares e sem cérebro, do tipo que costumam freqüentar os realities shows, mas por cidadãos respeitosos vítimas da irresponsabilidade humana. Sensacionalismo, em uma palavra, como nos tempos do programa Aqui Agora, extinto em 1997. Mais brando, é verdade, mas uma forma de sensacionalismo, de todo modo.
Foi o que aconteceu durante todo o dia da tragédia, quando, por exemplo, até programas dominicais exclusivamente de entretenimento – inclusive os conduzidos por não jornalistas – consumiram horas a fio tratando do tema, mas em tom predominantemente emocional e policialesco, e não informativo. Tampouco estes veículos sinalizaram o interesse de incluir este tema (a segurança em casas de shows) em uma agenda permanente de debates.
É claro que não se pode descartar o componente fortemente emocional que permeia uma tragédia como esta, mas quando se exagera na ênfase deste aspecto – sobretudo quando esta iniciativa parte de programas exclusivamente de entretenimento, aos quais não cabe o perfil de noticiosos – e quando se aborda este tema de maneira superficial gera-se desconfiança sobre os reais propósitos que margeiam a divulgação do fato.
Não se trata de uma novidade. O histórico de grande parte da mídia é profícuo neste gênero de cinismo, no âmbito das tragédias humanas. Cito apenas um caso, já clássico na cronologia de aberrações da mídia: o terremoto no Haiti, que completou três anos em 12 de janeiro e matou 316 mil pessoas, convertendo-se em um das maiores tragédias provocadas por causas naturais da humanidade. Entre elas, Zilda Arns, médica gaúcha fundadora da Pastoral da Criança.
Fontes ligadas à própria Pastoral da Criança, que continua atuando na região, informam que pouca coisa mudou de lá para cá. O portal IAI (International Alliance of Inhabitants) vai além. Comunica que, três anos após o terremoto, depois do bombardeio inicial de notícias sobre o desastre, o Haiti foi praticamente esquecido pela grande mídia e pelos organismos de ajuda internacionais. Mais de 370 mil pessoas continuam vivendo em abrigos temporários, em péssimas condições. E, o que é quase tão grave, 78 mil (21% do total) ameaçam ser despejadas. Não bastasse tudo isto, apenas 1/3 da ajuda prometida, inclusive pela ONU (Organização das Nações Unidas), chegou às mãos do presidente Michel Martelly.
Não é a grande mídia a culpada por isto, evidentemente, mas é de se perguntar por que um problema desta gravidade é solenemente ignorado pela imprensa, que, por sinal, só trata do Haiti ultimamente para criticar a presença dos militares brasileiros no país, algo plenamente justificável pela necessidade de combater os roubos, estupros, a violência e demais atos criminosos nos acampamentos.
Perdoem-me os colegas jornalistas que levam sua profissão a sério, mas não há como não deduzir, do exposto, que o que realmente move a engrenagem de boa parte da imprensa neste tipo de situação não é exatamente o interesse público, ou o sentimento de justiça e de solidariedade às vítimas.
O que se deseja é, tão somente, vampirizar as vítimas das tragédias. Nesta lógica cínica, importa não garantir espaço permanente às famílias das vítimas das tragédias, mas oferecer generosa cobertura aos seus dramas apenas durante o curto tempo em que os corpos dos mortos continuarem rendendo manchetes e as atenções do público. Até, portanto, o surgimento de uma nova tragédia que abasteça com sangue fresco a sede por dramas humanos novos dos que chamam isso de jornalismo.
Os meninos que perderam suas vidas neste domingo, bem como suas famílias, merecem um tratamento bem mais respeitoso – e não serem citados como vítimas de uma tragédia dantesca para, depois, serem praticamente esquecidos pela poeira do tempo, o que fatalmente irá acontecer. Cobrem-me isso, aliás, daqui a alguns meses. Todas as vítimas de todas as tragédias merecem, aliás, pelo simples fato de que são seres humanos – e não objetos descartáveis a serviço de empresários e jornalistas que lançam um olho sob os locais das tragédias e o outro sob os números da audiência. Triste que seja assim.

*Aurélio Munhoz é jornalista, sociólogo, presidente da ONG Pense Bicho e secretário do Comupa (Conselho Municipal de Proteção Ambiental de Curitiba).
Facebook: https://www.facebook.com/aurelio.munhoz


Programa correio verdade: informação, sensacionalismo, estilo popular e uma boa dose de humor para atrair a audiência do telespectador paraibano
André Luiz da Silva1
Priscila Maíla da Silva2

Resumo
Na busca pela audiência os telejornais policiais ultrapassam o limite entre a informação e o espetáculo do sensacionalismo, utilizando-se de formatos de programas já veiculados por outras emissoras e que deram certo caindo no gosto popular. O presente artigo faz um estudo sobre mídia, tendo como objeto o programa correio verdade, apresentado pela TV correio da Paraíba, programa líder de audiência neste segmento de informação no Estado. Na oportunidade o artigo traz um estudo sobre comunicação e sua teoria, comunicação e modernidade, comunicação e informação, e também uma abordagem sobre telejornalismo. No final será analisado o programa Correio verdade e o seu sucesso de audiência junto ao telespectador paraibano, que tem como principais razões o estilo popular, o detalhamento da informação, o sensacionalismo e o humor.


TEXTO COMPLETO: http://www.insite.pro.br/2011/Mar%C3%A7o/correio_verdade_telespectador.pdf

O que é sensacionalismo

Delton Unglaub

Pode-se dizer que os mass media são os principais responsáveis pelas transformações sociais da atualidade. O jornalista é seu cúmplice e sabe quais são as armas capazes de construir ou destruir ideologias. Cientes desse conceito, a imprensa em geral atua cada vez mais com a idéia de "o que é bom é aquilo que o público gosta". A partir do momento em que os produtos da mídia são consumidos, se tornam mercadorias. É na guerra em busca de audiência, que as regras da ética e moral são esquecidas. Daí vale tudo: sensacionalismo, notícias mal-investigadas, boatos.

Segundo o jornalista Jairo Faria Mendes, no artigo Opção pelo sensacionalismo, publicado no Observatório da Imprensa (novembro/2000),"a ética jornalística é influenciada pelas idéias dominantes em nossa sociedade. Por isso, ela será muito influenciada pelo pensamento neoliberal, que se subordinará aos princípios capitalistas, idolatrando o mercado, valorizando o egoísmo e o individualismo".

Quando se fala em sensacionalismo, falamos de manipular a informação de modo incompleto ou parcial e apresentar essa informação num formato exagerado ou enganador. A exploração de notícias sensacionalistas em geral resulta em audiência, mas também pode gerar em mais sensacionalismo. Ele pode vir expresso na apresentação visual (diagramação), no tema (conteúdo) e na forma de apresentar o discurso.

Sensacionalismo envolve também a certeza de verdade absoluta em determinados fatos, quando o que se tem são opiniões, hipóteses, casos isolados. O sensacionalismo é, na verdade, uma questão mundial, mas no Brasil foi transformado em instrumento da competição entre emissoras de televisão e jornais. Esta concorrência é prejudicial à formação de uma opinião pública clara e sensata.

Se recordarmos do triste caso de uma escola paulista - no qual os diretores foram acusados de molestar sexualmente seus alunos - veremos que para os meios de comunicação basta um indício, uma denúncia qualquer para que sejam feitas grandes manchetes sensacionalistas. Constatou-se posteriormente que a acusação era falsa, mas a vida dos diretores da escola foi totalmente destruída. Mais tarde a própria TV apuraria os fatos, desmentiria as investigações oficiais e corrigiria o erro. Entretanto, a retratação serviu apenas para que saíssem da prisão.

Sensacionalismo é, enfim, fazer apelo a reações mais baseadas na emoção do que na razão, trazendo sentimentos primários à tona, simplificando polêmicas em vez de fornecer elementos que permitam pensar, compreender, formar opinião. E, neste contexto, não interessa só aquilo que o veículo diz, mas também o modo como se diz. É claro que a mídia deve ser investigativa, denunciante de injustiças. Este é seu principal papel na sociedade, mas precisa ser exercido com responsabilidade, visando as conseqüências que erros de informação podem causar.


http://www.canaldaimprensa.com.br/canalant/debate/tercedi%C3%A7%C3%A3o/debate6.htm


Opção pelo sensacionalismo

Jairo Faria Mendes (*)

A ética jornalística é influenciada pelas idéias dominantes em nossa sociedade. Por isso, ela será muito influenciada pelo pensamento neoliberal, que se subordinará aos princípios capitalistas, idolatrando o mercado, valorizando o egoísmo e o individualismo.

Em conseqüência, cada vez ganha mais força a idéia de "que é bom aquilo de que o público gosta". À medida que os produtos da mídia são vistos como mercadorias, o que importa é que sejam consumidos. É a guerra em busca de leitores/ouvintes/telespectadores, na qual vale tudo: sensacionalismo, notícias mal apuradas, boatos.

E, o que é pior, quando se transforma o jornalismo em mercadoria também são colocados nessa mesma situação seus "ingredientes". Nos produtos jornalísticos estão presentes a dignidade e a honra de pessoas e instituições, comercializadas com as notícias. É algo muito sério. Entra em jogo a vida de pessoas, que nunca será igual depois de uma acusação da mídia.

Erros, pequenos e grandes

Podemos lembrar do triste caso da Escola Base, de Brasília, acusada de molestar sexualmente seus alunos. Era tudo mentira. Mas a vida dos diretores da escola foi totalmente destruída. A retratação serviu apenas para que saíssem da prisão. Recentemente, o New York Times criou problemas diplomáticos entre Estados Unidos e China ao divulgar notícia mal apurada sobre roubo de segredos militares americanos [ver remissão abaixo para "Lambança do NYT"]. Também vemos sensacionalismo em cenas como a da criança de 3 anos sendo torturada, apresentada noPrograma do Ratinho.

Para os meios de comunicação basta um indício, uma denúncia qualquer para que sejam feitas grandes manchetes acusatórias. Como se o denunciado fosse atropelado por um trem. É o linchamento público, as pauladas vêm de todos os lados: jornais, revistas, rádio, TV, internet. Há pouco vimos Wanderley Luxemburgo, ex-técnico da Seleção Brasileira de Futebol, massacrado pela mídia – "coincidindo" com seus insucessos em campo e baixa popularidade. Nem se sabe se ele é culpado ou inocente, mas a mancha do episódio talvez não se apague nunca.
Não quero dizer que a mídia não deva ser combativa, investigativa, denunciando injustiças. Este é um seu papel importantíssimo. Mas que deve ser exercido com responsabilidade, tendo em vista as conseqüências que pequenos ou grandes erros podem causar.

(*) Jornalista

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/mos05112000.htm

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