domingo, 17 de fevereiro de 2008

Quem ri, ri do quê?


Quem ri, ri do quê?

A gente “estamos” cansado, “tá bão”? Você riu? Se riu, não se incomode muito, pois, se muitas vezes não rimos, não é por falta de vontade. Pelo menos é isso que a observação nos permite afirmar.
E não só a nossa observação: também a observação de lingüistas (entre eles, Marcos Bagno), que estudam as variedades lingüísticas.
Para esses estudiosos, “falar diferente não é falar errado e o que pode parecer erro no português não-padrão tem uma explicação lógica, científica (lingüística, histórica, sociológica, psicológica)”.
Assim, falar ou escrever “probrema”, “cráudia”, “grobo”, “pranta”, “ingrês”, “broco”, exemplos extraídos de A língua de Eulália, de Marcos Bagno, explica-se, historicamente, por existir na língua uma “tendência natural em transformar em “r” o “l” dos encontros consonantais”. Quem fala ou escreve “broco” em vez de “bloco” não é “ignorante” ou “burro”!
Ou seriam “ignorantes” ou “burros” escritores como Camões, Machado de Assis ou José de Alencar? Não, claro que não! Mas como explicar que em Os Lusíadas, Camões escreve:
“Doenças, frechas e trovões”? Frechas [!?]. E Machado e Alencar tanto escreviam “froco” como “floco”? Froco!? Simples. Em suas épocas, devido à tendência natural já apontada, essas variantes eram perfeitamente possíveis e aceitáveis.
Em nossos dias, no entanto, isso não é mais possível e as pessoas que falam ou escrevem “errado” (froco, por exemplo) podem se tornar motivo de riso e alvo de preconceito. E por quê? Porque, em geral, são pessoas pobres, quase analfabetas, excluídas e injustiçadas socialmente. São pessoas a quem não foi dada a oportunidade de ir à escola e aprender o “certo”, a língua padrão.
Que fique claro que não se está querendo aqui defender que se precisa aceitar tudo em todas as situações. Pretende-se, isso sim, mostrar que “falar diferente” não é “falar errado”. É apenas falar de acordo com umas das variantes da Língua portuguesa.
Portanto, quando rimos, estamos rindo do quê?

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