domingo, 3 de outubro de 2010

NELSON MANDELA: 20 ANOS DE LIBERDADE

Mundo
| ISTOÉ Online | 11.Fev.10 - 09:12 | Atualizado em 03.Out.10 - 07:06



Nelson Mandela: 20 anos de liberdade

No dia 11 de fevereiro de 1990, um dos maiores líderes políticos do mundo era libertado depois de cumprir 27 anos de prisão



O ex-presidente sul-africano Nelson Mandela, herói da luta contra o apartheid, chegou nesta quinta-feira ao Parlamento na Cidade do Cabo para comemorar os 20 anos de sua libertação. Mandela foi ovacionado ao entrar no plenário. O primeiro presidente negro da história da África do Sul estava acompanhado de sua terceira esposa, Graça Machel. Ele entrou no Parlamento por uma porta lateral para evitar os jornalistas. Esta é a segunda vez que Mandela assiste à cerimônia organizada para o discurso à Nação desde a eleição do presidente Jacob Zuma, em maio passado.
Militante mais famoso da luta contra o apartheid, Nelson Mandela virou ícone mundial da reconciliação e do perdão desde que foi libertado no dia 11 de fevereiro de 1990. Muito frágil com seus 91 anos, "Madiba", como é chamado pelos membros de seu clã, limita suas aparições e se expressa apenas por gravações de vídeo, como fez em dezembro, durante o sorteio da Copa do Mundo de futebol, organizada pela África do Sul. Sua libertação em 1990, depois de passar 27 anos nas celas do regime segregacionista, acelerou a queda do apartheid. Quatro anos mais tarde, tornou-se o primeiro presidente negro da África do Sul, eleito democraticamente.
"Um ícone mundial da reconciliação". Esta definição do arcebispo anglicano Desmond Tutu resume o principal legado de Mandela: transformar, sem rancores, um país desunido em uma democracia multirracial e estável. Mandela nasceu no dia 18 de julho de 1918 na região de Transkei no seio de um clã real. Seu pai o chamou Rolihlahla, "o que traz problemas", em xhosa. Um mestre acrescentou o nome Nelson. Mandela manifestou muito cedo um espírito rebelde e, dessa forma, foi expulso da universidade negra de Fort Hare por uma briga sobre a eleição de representantes estudantis.
Em Joanesburgo, o estagiário de advogado, aficcionado pelas mulheres e pelo boxe, luta no Congresso Nacional Africano (ANC) e co-funda a Liga da Juventude da ANC. Frente à um regime que institucionaliza o apartheid em 1948, toma as rédeas do partido. Detido em várias ocasiões, Mandela é julgado pela primeira vez por traição e absolvido em 1956. Um ano depois, preside o ANC quando, proibido em 1960, inicia a luta armada. Detido, é julgado com o núcleo dirigente do ANC por sabotagem e conspiração contra o Estado no processo de Rivônia (1963-64).
Mandela é condenado à prisão perpétua, mas proclama seu desejo: "Meu ideal mais querido é o de uma sociedade livre e democrática em que todos vivam em harmonia com igualdade de oportunidades. Um ideal pelo qual estou disposto a morrer". Na prisão de Robben Island, na Cidade do Cabo, Mandela inspira seus companheiros. A partir de 1985, o regime do apartheid, asfixiado pelas sanções internacionais e pela incansável luta interna, inicia contatos secretos. No dia 11 de fevereiro de 1990, o "preso 46664" aparece como homem livre junto com sua segunda esposa. Logo retoma as negociações. O êxito da transição, negociada com o último presidente do apartheid, Frederik de Klerk, será premiado com o Nobel da Paz em 1993. Eleito triunfalmente nos primeiros comícios multirraciais, no dia 27 de abril de 1994, Mandela expressa no seu discurso sua vontade de construir uma "nação arco-íris em paz consigo mesma e com o o mundo".
Adorado pelos negros, ganha pouco a pouco o afeto dos brancos, pasmos por sua falta de amargura, simbolizada em 1994 pela camiseta da seleção nacional de rugby, esporte emblemático dos antigos senhores brancos, que Mandela colocou na final do Mundial, vencido pelos Springboks sul-africanos. O episódio virou filme, "Invictus", dirigido por Clint Eastwood e protagonizado por Morgan Freeman e Matt Damon.


Em 1998, o dia em que completou 80 anos, "Tata" (avô) casou-se com Graça Machel, viúva do presidente moçambicano, 27 anos mais jovem. Um ano depois, abandona a presidência e se afasta da vida pública. Leal ao partido ANC, evita se posicionar politicamente, exceto sobre a luta contra a Aids. A doença é um tabu quando organiza, em 2004, o primeiro de uma série de concertos mundiais beneficentes. Dois anos depois anuncia publicamente que seu filho morreu de Aids.

África do Sul: 20 anos depois

A libertação de Nelson Mandela, em 11 de fevereiro de 1990, precipitou a queda do apartheid e abriu caminho para a instauração da democracia na África do Sul. Vinte anos depois, o país continua lutando contra enormes desigualdades e a impaciência que domina os bairros pobres. Em 1990, "a esperança era enorme, pensávamos que era o início de uma nova era. Este otimismo diminui muito", estima Moeletsi Mbeki, do Instituto Sul-Africano de Relações Internacionais. Do ponto de vista político, a mudança é radical. As leis de segregação foram abolidas, a democracia multirracial está consolidada e o país adotou uma das constituições mais liberais do mundo.
Desde 1994, o Congresso Nacional Africano (ANC), partido de Mandela, venceu com folga todas as eleições. A antiga formação de combate ao regime de dominação branca defende a reconciliação, e apesar de suas raízes históricas na esquerda, se esforça para tranquilizar o mercado financeiro. Esta estratégia permitiu que o país avançasse com forte crescimento até o ano passado, transformando a África do Sul no gigante econômico do continente e permitindo a criação de programas sociais que hoje beneficiam 13 dos 48 milhões de sul-africanos. Por outro lado, o processo de redistribuição de renda não foi tão bem sucedido, e os excluídos do antigo regime apenas melhoraram um pouco sua situação atual.
Apesar da emergência de uma classe média negra, chamada de "os diamantes negros", a grande maioria da população ainda sofre com o desemprego e a pobreza. Segundo um relatório recente divulgado pelo governo, as disparidades não param de crescer. A renda mensal média dos negros aumentou 37,3% desde 1994. No caso dos brancos, porém, o salto foi de 83,5%. Embora o governo tenha melhorado o acesso à água e à energia elétrica, ainda há muito a fazer nos enormes subúrbios do país, onde 1,1 milhão de famílias ainda vivem em barracos. "O ANC triunfou onde pensava que fracassaria: na gestão de uma economia moderna", destacou Frans Cronje, do Instituto Sul-Africano de Relações entre Raças. "Mas os setores considerados seus pontos fortes - a melhoria das condições de vida, a educação e a luta contra a criminalidade - são um fracasso".
Em consequência, "a cólera nas comunidades negras pobres aumenta rapidamente, e os resultados do partido no poder decepcionam cada vez mais", acrescentou. Consciente destas tensões, o chefe do ANC e atual presidente, Jacob Zuma, fez uma campanha eleitoral no ano passado dirigida diretamente aos mais pobres. Nos meses que se seguiram a sua chegada ao poder, em maio, os "townships" o lembraram de suas promessas, com manifestações violentas para denunciar a corrupção e a ineficácia do poder público local. O presidente deve aproveitar o vigésimo aniversário da libertação de Nelson Mandela para reafirmar sua determinação de transformar o país, em um discurso à nação pronunciado no Parlamento.

Homenagem

O presidente da Fifa, Joseph Blatter, enviou uma mensagem em vídeo ao ex-presidente sul-africano Nelson Mandela, que comemorou, nesta quinta-feira, 20 anos de sua libertação da prisão na África. O dirigente afirmou que o famoso estadista é o "maior símbolo da humanidade africana".
Personalidade maior da África, Mandela foi libertado do seu cárcere em 11 de fevereiro de 1990, depois de ficar 27 anos preso. No vídeo enviado, Blatter lembra a importância que a influente personalidade tem para a Copa do Mundo de 2010, torneio que começa em 11 de junho e será realizado na África do Sul. "Você (Mandela) fez mais do que podia por seu país e seu continente, dedicou sua vida à aplicação dos direitos humanos e à democracia e liderou uma luta interminável para a libertação não só da sua gente, os sul-africanos, mas de toda a humanidade", ressaltou o mandatário da Fifa em um trecho da sua mensagem.
"Com este mesmo espírito, sua jovem nação realizará um grande torneio, com determinação e dignidade", reforçou Blatter, que ressaltou: "Acreditamos que a Copa do Mundo pode contribuir para o legado que você queria que ficasse para o seu país". Em nota publicada em seu site oficial nesta quinta-feira, a Fifa destacou que a "libertação de Mandela, após 27 anos de cárcere, abriu também as portas para a celebração das primeiras eleições democráticas da África do Sul". A entidade ainda lembrou que, em maio de 1994, a famosa personalidade se tornou o primeiro presidente da história sul-africana que foi eleito de forma democrática.
Copyright © 2010 Agência Estado. Todos os direitos reservados.

Nenhum comentário: