quinta-feira, 11 de novembro de 2010

FAMA

Fama, tortura e interação no BBB 10 (Por Alex Primo)

Mais um Big Brother Brasil acaba de terminar. Acaba assim a desesperada busca pela fama e as torturas em horário nobre. Se você viu ontem o programa final, talvez tenha ficado pensando que o colorado Marcelo Dourado foi o único vencedor. Engana-se. Para os outros concorrentes, que ontem faziam figuração, o grande prêmio foi a repentina fama alcançada. A exposição por meses no principal canal massivo da TV pode render contratos futuros, fazer decolar uma carreira de modelo ou cantor ou capas em revistas masculinas.
A guerra de egos em cadeia nacional não surpreende e não é privilégio do Big Brother Brasil. Uma pesquisa realizada por Young e Pinsky (2006) mostrou que os participantes de reality shows apresentam graus de narcisismo mais altos que de atores, atletas e modelos. Surpreso?
A grande dúvida é o que vem depois dessa rápida ascensão midiática? O status de celebridade é facilmente mantido por aqueles que passam a ter como profissão o título de ex-BBB? Grazielli Massafera é um nome que ainda é facilmente lembrado pelo grande público. Mas você lembra de outros concorrentes? Este tipo de "celebridades" cuja notoriedade rapidamente se esvai é chamado por Rojek (2008) de celetóide. Nesta categoria encontram-se ganhadores de loteria, mordomos de celebridades, anônimos que praticam um repentino ato de heroísmo, etc. Mas o que ocorre com essas pessoas quando seus rostos são esquecidos? Talvez consigam se eleger para algum cargo público? Bem, não foi o que aconteceu com Dhomini (BBB3) ou com a super celetóite Ruth Lemos.
Talvez você tenha tentado evitar o BBB 10, pois não aguenta mais assistir esse jogo de vaidades, esse espetáculo sobre o nada. Muito provavelmente você teve grande dificuldade com esse exílio midiático. Jornais e revistas (impressos e online), blogs e até mesmo o Twitter não pararam um dia sequer de tratar desse dramalhão. Na verdade, o uso intenso do Twitter pelos telespectadores deu novo sentido ao que se entende por TV interativa! Não posso deixar de mencionar que isso também serviu de ótimo exemplo para se compreender o conceito de encadeamento midiático (a forma como meios de comunicação de diferentes naturezas e com audiências distintas mantém inter-relação).
"Muito se falou sobre quase tudo o que ocorreu dentro da "casa mais vigiada do Brasil". O que não se discutiu foram as cenas de tortura psicológica (travestidas de provas de resistência física) exibidas no programa. Além do quarto branco, cuja opressão causou a desistência de um concorrente em uma edição anterior, neste ano a produção do programa conseguiu sofisticar os mecanismos de tortura. Em uma das últimas disputas pela liderança, dois pequenos grupos ficaram confinados em um ambiente onde chovia, ventava, fazia frio e depois calor intenso. Os "brothers" eram proibidos de se alimentar e de fazer suas necessidades e tentavam de todo modo se proteger das intempéries comandadas pelos internautas (isso é que é "interatividade"?). O que se assistiu eram os celetóides úmidos, com queixos batendo, chorando ou dormindo de pé. Estranho mesmo foi a Fiat achar que esse tipo de imagem é interessante de ser associado ao carro Linea.
A defesa fácil da Globo é: a porta permaneceu o tempo todo aberta. Qualquer concorrente poderia sair da clausura assim que quisesse. Mas, além do desafio físico, a tortura psicológica era muito superior. Como mostrar a fraqueza em cadeia nacional? Para os desesperados aspirantes pela fama é como se as portas estivessem lacradas, ou como se elas fossem a passagem para a revelação de seu fracasso. Enquanto isso, o público aplaudia e ria com o sofrimento dos tais brothers. Se eles podem ganhar fama e dinheiro, que tenham então que sofrer muito.
Qual o limite da audiência massiva em reality shows? O documentário francês Le Jeu de la Mort (O Jogo da Morte) simulou, sem que a platéia soubesse, um jogo de perguntas e respostas onde um concorrente (na verdade um ator disfarçado) levava choques sempre que errava. A audiência ensandecida mostrou que não existe limites em reality shows. Dos 80 participantes, 64 optaram por aplicar um choque de 460 volts no candidato. Tamanha carga foi então responsável pela morte ao vivo do candidato ao prêmio. A prova e o choque eram falsos e a morte foi simulada. O que assusta é que a platéia era real e a decisão pela tortura do participante foi consciente.
No espetáculo massivo tudo parece um grande jogo. O que a massa precisa é descarregar suas tensões para dormir em paz.

http://www.interney.net/blogs/alexprimo/2010/03/31/fama_tortura_e_interacao_no_bbb_10/ acesso em 06/11/2010




A SÍNDROME DA FAMA


Quando se tem um muito contato direto com o público, numa carreira de escritor e conferencista como a minha, existe a oportunidade de ver e sentir, bem de perto, os reais anseios das pessoas, suas frustrações, seus objetivos, enfim tudo aquilo que faz a felicidade, o prazer e a infelicidade dessas pessoas.

Entre tantas descobertas, tenho notado algo em especial nos jovens: a busca pela Fama. De alguma maneira, alguns meios de comunicação vêm conduzindo as pessoas a pensar que a maneira de vencer na vida, ou ser alguém de reconhecimento, é ser alguém famoso.

- Mas, o que é alguém famoso?

- Mas, o que é realmente a Fama e o que ela traz de concreto à vida de quem a desfruta?

Essa síndrome da busca desenfreada pela Fama faz com que muitos jovens deixem de acreditar nos estudos, no empreendedorismo e em outros meios de conquistar vitórias em suas vidas.

Se eu contasse aqui algumas revelações das minhas pesquisas, no tocante ao que as pessoas estão dispostas a fazer para serem famosas, teríamos uma discussão e tanto, principalmente, para revermos nossos valores existenciais.

Mas a Fama é algo que pessoas perseguem ao longo da história da humanidade e, talvez, este seja o ponto: a perseguição da Fama. Talvez um dos efeitos da Fama, seja a sensação de poder que ela sugere às pessoas, afinal ao longo da história humana a graduação de lideranças foi feita pelo valor do poder que determinada pessoa detinha em seus domínios.

A Fama tem efeitos avassaladores em vários sentidos. Pode fazer uma pessoa expandir sua atividade além de fronteiras imaginárias e pode também trazer desafios inimagináveis.

Não faz muito tempo, O Fantástico mostrou o depoimento de pessoas comuns que fariam qualquer coisa pela Fama para viverem como seus ídolos. Em contrapartida entrevistou os ídolos destas pessoas. A parte incrível é que os ídolos dessas pessoas que fariam qualquer coisa para ser como serem como eles, afirmaram que gostariam de ser pessoas comuns; ter uma vida comum; que a vida de famoso é conturbada; ninguém lhe dá sossego e por aí afora. Na realidade os ídolos entrevistados queriam ser famosos, mas levarem uma vida como a das pessoas comuns.

É o blábláblá de algumas filhinhas de papai e patricinhas, verdadeiras burquesas-jecas, que possuem tudo, fazendo o estilo miséria urbana, dizendo “dinheiro não é tudo”, mas não dispensam uns quilos de ouro em jóias no pescoço...

E ainda tem muita gente famosa que ficou mais famosa ainda, mas queria a vida comum. Em sua vida comum que tanto almejava, quando perdeu a fama, entrou em depressão e agora vai ao terapeuta. Porém na saída de toda festa em que vai e um fotógrafo não lhe dá um “clique”, nem que seja só com o flash da máquina, ai ai ai...

- Será que a Fama pode realmente dar tudo que alguém almeja da vida?

É interessante como muita gente luta para conseguir algo e depois descobre que realmente o que era importante, estava bem ali ao seu alcance em tempos passados.

Fama não é pecado: é um processo de aceitação pela sociedade de algo que está sendo praticado. Devemos lembrar que nossa sociedade possui várias facetas e níveis sociais e culturais, e eis aí a razão de muita coisa estranha, assim como algumas pessoas estranhas fazerem fama. Fazem a fama dentro de seu universo social e cultural, mas a fama é algo expandido para uma visão geral.

A fama do fundão cai como bomba na turma do gargarejo e a fama da turma do gargarejo cai como absurdo na turma do fundão.

Nossos “modelos” sociais e culturais, por receberem hoje uma forte influência das melancólicas programações televisivas, onde uma parte da população, por ausência de personalidade, termina por ser contagiada pela personalidade dos personagens novelescos, quer viver em suas vidas os ti-ti-tis da televisão.

Basta notar a avalanche de produtos que são despejados no mercado, utilizados pelos personagens destas “propostas” de vida, enxertadas pela deficiência de realidade, que causa uma ilusão coletiva de que tudo aquilo que se vê na tela é um exemplo a ser seguido.

A fama vem e vai e, às vezes, também fica.

- Mas como a fama fica?

A razão de uma pessoa ser uma personalidade famosa e manter sua posição de fama é simples: ela possui uma atividade com conteúdo superior ao processo da fama efêmera. Ela possui algo que realmente leva à sociedade uma reação capaz de transformar, de alguma maneira, positiva e sentimentalmente. Observe que o sucesso de um personagem não garante o sucesso do ator.

A ânsia de muitos jovens em serem famosos nas passarelas e na TV, faz com que esqueçam de ser os heróis famosos de sua família, de seus amigos e até de sua crença.

Talvez a fama perpétua seja aquela em que o trabalho executado, ou a ação em processo, realmente tenha conteúdo de existência nas bases da ética e da conduta no caminho do bem.

Esta busca pela fama ficou tão estranha que, outro dia, em uma de minhas pesquisas, tive contato com um grupo de presos que afirmaram algo interessante sobre a “qualidade” de um bandido hoje. Eles disseram: “Bandido importante hoje não é mais aquele que é capa de jornal: é aquele que tem citação nos programas de TV que só mostram o banditismo. Tem ‘nego’ hoje que pratica crime só para ficar famoso e comandar o bando...”.

Esses programas de TV são os verdadeiros cavaleiros do apocalipse social e, principalmente, o grande espaço para bandidos chegarem à fama em seu meio de atuação.

Interessante é que nesta mídia onde a desgraça é famosa, nunca se mostra um médico salvando uma vida num hospital, alguém fazendo uma caridade, porque, na verdade, fica famosa a pessoa que rompe as regras do normal...

– Será?

Espero que você se torne uma pessoa muito famosa por tudo aquilo que fizer de bom ao mundo e às pessoas que estão ao seu alcance, pois esta é a maneira de perpetuar sua fama e fazer dela um exemplo a ser seguido.

Famosa mesmo é a pessoa que pratica o bem; respeita o meio em que atua; inspira-se no auxílio ao próximo; é um exemplo para seus familiares e outras pessoas de seu meio, por sua perseverança, seu empenho no trabalho sério e seu coração que sempre encontra tempo para estar perto do Criador. A verdadeira Fama é aquela nutritiva, que traz benefícios a quem a possui e a todas as pessoas que a admiram.

Famosa mesmo é a pessoa que nunca mediu conseqüências para implantar a justiça, dividir emoções, expandir a gratidão e fazer do mundo um lugar melhor para todos viverem...

- Não é mesmo?

Então porquê não tomarmos como “base” de Famosos: Irmã Dulce, Madre Teresa de Calcutá, Dra. Zilda Arns, Roberto Carlos, Dr. Zerbini, Betinho, Ayrton Senna, Dorina Nowill, Carmem Prudente, Chitãozinho e Xororó, Viviane Senna, médicos que salvam, mãos que curam, corações que perdoam e amam...
Cesar Romão
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A fama e a influência da mídia na felicidade dos jovens
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Diego Pereira Machado
Acadêmico do 9º semestre de Direito do Instituto de Ensino Superior de Santo Ângelo (IESA).
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A insatisfação dos jovens brasileiros com o próprio corpo e com a sua condição social é imensurável e demonstra ser um sentimento crescente. A busca por uma posição de destaque, de superioridade ou de onipotência é uma marca deste século, processo involutivo se contrastarmos com a inoperância e conformismo dos jovens frente aos problemas sociais da atualidade. Essa nova filosofia de vida, de insatisfação pessoal permanente, como se algo quase que inalcançável faltasse, priorizando-se o “eu”, é utilizada como mecanismo eficiente pela TV brasileira para venda de seus produtos, resultando na formação de uma nova juventude, onde a prioridade é a conquista da fama, do sucesso e dinheiro, consequentemente de uma suposta felicidade ditada pela TV.
A influência dos programas de TV começa desde cedo, na infância, sequer espera, não se restringe à adolescência. Não é de se espantar que sejam realizadas inúmeras pesquisas por grupos de estudo, instituições internacionais, pela Igreja e missionários que tentam desvendar qual a influência dos programas televisivos no comportamento dos jovens, defendendo teses de que a TV passa uma mensagem oculta de incentivo ao sexo, violência, homossexualismo e, até mesmo, para os mais radicais, apologia ao “satanás”. Neste sentido, em outubro de 1998, a Organização das Nações Unidas (ONU) realizou uma pesquisa sobre os desenhos animados transmitidos pela televisão brasileira com o objetivo de medir a quantidade de violência passada para as crianças. O resultado foi assombroso, pois de acordo com a pesquisa, uma criança brasileira que assista a duas horas diárias de desenho animado estará exposta a 40 cenas de violência explícita, já em um mês, seriam 1.200 cenas e, num ano, pasmem, seriam 14.400 cenas de pura violência sendo produzidas dentro da própria sala de estar das nossas casas.
Dentro deste cenário o que mais nos tem estarrecido ao analisarmos o comportamento do jovem, não é apenas a influência direta da mídia no comportamento violento dos adolescentes ou a atividade sexual precoce, que começa desde a infância como acima exposto, mas sim a incansável busca por um lugar no mundo dos famosos, como se este fosse o passo final para a felicidade. Esta é a mensagem endereçada [i] aos jovens atualmente, prova de que a presença da TV nas casas e nas escolas não é mais com fins informativos, mas sim posta-se como fato social permanente e irreversível, sendo bem interpretada por Rosa Maria Bueno Fischer (2001,p.28), da seguinte maneira:“‘Imagem é tudo!’ – esse é o conselho que ouvimos todos os dias: é preciso não apenas ser, mas ‘parecer ser’; e se não pudermos ser, que nos esforcemos para parecer, e isto até pode bastar, porque cultivar a imagem (de si mesmo, de um produto, de uma idéia) mostra-se como algo tremendamente produtivo. Basta lembrar como ocorrem as campanhas políticas ou as performances públicas dos governantes, especialmente como um país como os Estados Unidos da América.”
A comunicação audiovisual não é mais um simples mecanismo informativo, não é mais um simples meio de comunicação onde se mostra o que aconteceu, mas sim é uma “instância da cultura que deseja oferecer muito mais que informação, lazer e entretenimento” (Rosa M. B. Fischer; 2001-p.18), mostra-se como instrumento de comunicação que está acima do bem e do mal, como se fosse imune a críticas. Este poder de fazer a verdade, onde se explora a desgraça de miseráveis que acreditam que a única verdade dos fatos e o único lugar onde a justiça pode ser feita estão em programas como Linha Direta (Rede Globo) ou Cidade Alerta (Rede Bandeirantes), lugares onde os apresentadores são os verdadeiros “justiceiros”, onde a incoerência e inconsistência das colocações são interpretadas como soluções dos problemas. Esta estratégia da TV de se mostrar inquestionável é extremamente eficaz, resulta numa falsa opinião pública, que na verdade acaba expressando um desejo, não mais da sociedade, mas sim do poder concentrado da mídia.
A insatisfação dos jovens com a própria imagem e com o que possuem leva-os a buscar mais, algo que tem sido oferecido pela mídia e só ela pode tornar realidade, por esta razão nós presenciamos o fenômeno da “cópia”, ou seja, não há mais originalidade no comportamento dos adolescentes, principalmente quando abordamos o “parecer ser”. Não enxergamos mais jovens brasileiros, mas sim jovens “americanos” com um ofuscado vínculo com nosso país, tamanha a influência norte-americana no comportamento dos jovens brasileiros, principalmente no modo de se vestir. Quando saímos pelas ruas nos deparamos com inúmeros candidatos a rapper, esta moda “bad-boy” americana está calcada na conquista da fama rápida, dinheiro, violência e sexo fácil, características que são almejadas pelos jovens brasileiros, fenômeno também presente no estilo dos carros, onde imagem é tudo, principalmente os rebaixados, com vidros fume e sons potentes, expressando um ar desafiador. Há um apelo a todos os recursos para ser famoso, se o objetivo não é alcançado, que ao menos pareça ser.
A busca constante pela fama, aliada às estratégias televisivas, faz-nos lembrar da frase do famoso pop norte-americano Andy Warhol, onde este disse: “In the future everybody will be world-famous for 15 minutes” [ii], este futuro já chegou, as pessoas buscam minutos de fama na frente da telinha, sem se importar com o preço. O maior preço pago pelo telespectador que pretende ser famoso é a perda da intimidade, haja vista que não se pode mais diferenciar espaço público por espaço privado. Hoje, o mais eficiente caminho de se tornar público é estar na mídia, “estar lá como destaque, como grande astro, ou então como simples mortal que de alguma forma conheceu o sucesso, a ‘grandeza’, o ‘heroísmo’” (Rosa M. B. Fischer; 2001-p.35). Este apelo à quebra da intimidade é um recurso utilizado com muita freqüência em programas como de talk show, de forma exemplificativa podemos citar o programa do Jô (Rede Globo), percebe-se que não há um momento em que o apresentador não deixe de apelar a este recurso, seja questionando o auditório, o entrevistado ou até o público de casa com perguntas sobre sexo, homossexualismo ou fetiches, tudo gira em torno do desafio de desvendar o que acontece na intimidade das pessoas.
O enfraquecimento da personalidade, conforme fenômeno da “cópia” citado, onde ser famoso significa ser aceito pela mídia, custe o que custar, encontra-se presente no comportamento dos jovens brasileiros da atualidade, principalmente quando encaram isto como meio único de serem felizes e realizados. Tal forma de comportamento acaba “amputando” valores dos jovens que a sociedade espera que não pereçam frente a uma mídia manipuladora, principalmente quando são depositadas expectativas de mudança, que muitas vezes apenas podem ser concretizadas pelos jovens. Esta inoperência que tem se constatado, influencia negativamente todos os níveis da sociedade, por esta razão necessitamos do desenvolvimento de uma metodologia que objetive ensinar a criticar de forma objetiva o que se transmite pela televisão. Sobre este necessário comportamento crítico, Rosa M. B. Fischer (2001,p.45) narra palestra do escritor José Saramago: “(...)em sua Aula Magna na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, quando recebeu o título de Professor Honoris Causa, dia 26 de abril de 1999, referindo-se aos modos pelos quais social e historicamente vimos sendo “amputados”, impedidos de ser, propôs que nossa resistência talvez seja imaginar que cada um de nós tem, na verdade, ‘três metros de altura’, que podemos desejar mais, ir além; que, afinal há algo acima, além, dê-se a isso o nome de se quiser dar.”
Em resumo, podemos resistir às incursões mentais feitas pela TV, podemos criticar e manter nossa originalidade. Este comportamento pode ser trabalhado com os jovens, desde que comece nas séries inicias e seja um trabalho constante. É um ensinamento que também podemos concluir quando analisamos a obra de Paulo Freire, em que este preceitua acerca do inaceitável conformismo social, muito mais presente hoje nos jovens, por causa da priorização do “eu”, transmitida pela TV e também por estarmos vivendo um processo de transmissão de massa onde a mensagem principal é que do modo como estão as coisas não podemos mudar, devemos aceitar calados, oprimidos. Acerca do conformismo humano disserta Paulo Freire (2000,p.126): “(...) quanto mais os oprimidos vejam os opressores como imbatíveis, portadores de um poder insuperável, tanto menos acreditam em si mesmos. Foi sempre assim(...). Uma das tarefas (...) é procurar, por meio da compreensão crítica(...), ajudar o processo no qual a fraqueza dos oprimidos se vai tornando força capaz de transformar a força dos opressores em fraqueza. É uma esperança que nos move.”
Os recentes programas televisivos criados pelas emissoras de televisão brasileira incentivam a involução cultural e comportamental dos jovens, fortalecem o processo de opressão, onde a TV ao invés de informar o que é, passa a dizer como devem ser feitas as coisas. Ao mesmo tempo que se mostra um brasileiro que venceu na vida de forma honesta e com muitas dificuldades, nunca deixam de lembrar que ser modelo e jogador de futebol é mais fácil e financeiramente mais rentável. Esta influência está também fundamentada na constante priorização pela TV do corpo, sua perfeição e na necessidade de ser perfeito fisicamente e ter uma virilidade incontestável. Comportamento este encontrado em crianças que, mesmo aparentando uma certa inocência, não vislumbram outra coisa a não ser dinheiro e fama, moda e luxo, violência e sensualidade. Chegamos a um ponto em que o pudor feminino começa a ser substituído pelo frenético, incontrolável e ilimitado assédio masculino, que sonha com seios e bumbuns milimetricamente perfeitos. É o processo em que a TV dita o que deve ser assistido, oprimindo a personalidade e a liberdade de escolha dos telespectadores.
A fama resulta como uma espécie de motor que rege a mente dos jovens, vítimas de uma programação que mais se parece com o livro vermelho de Mão Zedong [iii], vislumbrando criar um novo homem (no nosso caso famoso!) sem dar muitas opções. Esta falta de escolha pode ser facilmente constatada se levarmos em conta que a grande maioria dos lares brasileiros não têm internet e muito menos TV a cabo. Encontramo-nos adstritos a assistir programas como o que transforma simples brasileiros em famosos, sendo assim, transmitem a mensagem de que alcançaram a felicidade e o sucesso (Ex.:Big Brother – Rede Globo), ou em assistir novelas que se estruturam numa produção semelhante à mexicana e que transformam a traição em exercício diário e a raiva de um ser por outro num toque sedutor (E.:Canavial de Paixões - SBT).
A música, como muitos programas de TV, também é utilizada pela mídia como ferramenta auxiliar para passar a mensagem de que a busca pela fama deve ser perene. É mais um meio de “castrar” a esperança de mudança dos jovens. Esta constatação, em que a música é um caminho doentio para atingir a fama, independente dos obstáculos, que não são mais a qualidade e dedicação, mas sim a sensualidade dos corpos, faz-nos lembrar de uma entrevista em que Gilberto Gil foi perguntado sobre sua opção de vida, se não tivesse seguido esta carreira de tanto sucesso, sendo assim, o que ele seria. Ele disse: “Eu teria ido estudar música”. [iv] Sorte nossa que podemos prestigiar tanto sucesso e qualidade, resultado de muita dedicação. Como Gilberto Gil, não esqueçamos de Caetano Veloso, que chegou a contratar compositores da música erudita para lhe dar aulas de composição, era um tempo em que não se falava em “É o Tchan”, em “Terra Samba” ou em “Os Sungas”. Um tempo em que o talento era prioridade e a fama era apenas um resultado concreto de dedicação.
Entre programas e grupos musicais também devemos nos atentar para o sensacionalismo influenciador de alguns fatos e personagens sobre os jovens, decisivos para que estes escolham seus ídolos e definam, muitas vezes, seus objetivos de vida. Entre muitos fatos e personalidades, devemos relembrar de como foi a morte de nosso “Zeus” (o deus dos deuses na Grécia antiga), referimo-nos a Roberto Marinho, que após sua morte nos fez entrar num profundo processo de reflexão. Num dos poucos momentos de “filosofia”, perguntava-nos se haveria pessoa mais perfeita que Roberto Marinho, acreditava-se que deveriam substituir Jesus Cristo por aquele homem. Eram tantos elogios, tanta modelação de um deus que vai deixar saudade, pois sua “perfeição” como pessoa fez com que o Congresso Nacional parasse e a Igreja se perguntasse se deveria ou não santificá-lo. Mesmo depois de tanto estardalhaço, continuamos achando que Chico Mendes foi muito mais significativo para nosso país.
Esse fenômeno, ou seja, esta presença inafastável da TV na escola e lares, não pode ser encarada, precipitadamente, somente de forma negativa, pois a TV tem se mostrado também um meio de comunicação eficiente na educação pública, em casos específicos e isolados. Podemos citar como exemplo a Rede Vida, TVE do Rio de Janeiro, Canal Futura, Globo News e TV Escola, programas que têm servido como orientadores de professores e instituições. Entretanto, não basta ser a TV simples orientadora, deve ser também objeto de uma análise crítica e objetiva por professores e alunos, interpretando-se o enfoque, a abrangência e o endereçamento dos programas, viabilizando um processo onde jovens possam escolher o que assistir de forma consciente, comportamento este já cristalizado em países Europeus. Ressalte-se que os benefícios da TV não são objeto deste trabalho, mas sim o fenômeno individualizado da influencia que a TV exerce na felicidade dos jovens, através da mensagem de que ser famoso é tudo. De qualquer forma, destacamos que, embora sendo um meio auxiliar importante de educação, as professoras e professores ainda não estão preparados para “dirigir-se à ‘criança telespectadora’, para comunicar-se com o adolescente nascido, criado e ‘alfabetizado’ pela TV” (Rosa M. B. Fischer; 2001-p 35).
Mesmo com tantos adolescentes candidatos ao estrelato, ainda estamos convencidos de que a fama não é a panacéia para os desafios da juventude brasileira, não é só o sucesso na mídia, tão bem trabalhada pelos produtores de TV, que traz felicidade, mas sim a consciência de definir o que é suficiente para desfrutar simples momentos da vida. Não nos referimos ao simples conformismo, mas sim à simplicidade, é fácil ser feliz, basta buscar o possível e não deixar ser influenciado ou alienado pelos sonhos dos outros. A TV incute uma mensagem de que o famoso ou bem sucedido é o bem feliz, bem bonito, bem dotado e bem afortunado, mas muitas vezes é bem mal informado, pois uma mensagem televisiva nem sempre expressa a realidade.

Referências

FISCHER, Rosa Maria Bueno. Televisão & Educação, Fruir e Pensar a TV. Editora Autêntica, Belo Horizonte – 2001.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança. Um reencontro com a Pedagogia do Oprimido. Editora Paz e Terra,São Paulo – 2000.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários à prática educativa. Editora Paz e Terra. São Paulo – 1999.
ZANGONEL,Bernadete. MÚSICA, MIDIA E EDUCAÇÃO. Artigo publicado no Jornal Gazeta do Povo, Paraná, em 07/05/2001.
Koogan/Houaiss. Enciclopédia e Dicionário Ilustrado. Edições Delta, Rio de Janeiro – 1997.


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Informações Bibliográficas
Conforme a NBR 6023:2000 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:
MACHADO, Diego Pereira. A fama e a influência da mídia na felicidade dos jovens. Site do Curso de Direito da UFSM. Santa Maria-RS. Disponível em: .
Acesso em: 11.NOV.2010

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