segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Dissertação bilateral: síntese de dois termos

“A síntese aplicadas a termos complementares: a síntese de dois termos pode ser aplicada quando o tema (ou o título) da dissertação contiver palavras cujos signifi­cados se complementem. Podemos citar como exemplos alguns pa­res de termos: vida x sonho, tempo x espaço, mocidade x velhice, ter x ser, real x irreal, matéria x espírito, e muitos outros que se re­ferem a dualidades coexistentes no universo e, de resto, em nossas vidas.” Vejamos abaixo um exemplo de redação, produzida na Fuvest, desenvolvida a partir da síntese de dois termos.

Tema: Texto n° 1 - "Voltemos à casinha. Não serias capaz de lá entrar hoje, curioso leitor; envelheceu, enegreceu, apodreceu, e o proprietário deitou-a abaixo para substituí-la por outra, três vezes maior, mas juro-te que muito que a primeira. O mundo era estreito para Alexandre; um desvão de telhado é o infinito para as andorinhas." (Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas)

Texto n° 2 - "O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia. / Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia. / Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia... " (Fernando Pessoa, Poemas de Alberto Caeiro)

Texto n° 3
O quadro anterior é do pintor surrealista René Magritte (1898-1967). A frase nele inscrita (em francês) significa: "ISTO CONTINUA A NÃO SER UM CACHIMBO"

A partir da relação entre este quadro e os textos n° 1 e n° 2, é possível afirmar que tudo é relativo? E que a realidade é uma ilusão? Redija uma dissertação, defendendo o seu ponto de vista a esse respeito.

Redação nota 10 – O respeito à objetividade e à subjetividade dos fatos

Discussões sobre objetividade e subjetividade vêm ocorrendo há séculos, sendo que os defensores de ambos os lados procuram definir os limites entre o que é objetivo e o que é subjetivo. Muitos nomes importantes da ciência e da filosofia envolveram-se nestas discussões, sendo que vários caíram nos extremos opostos, ora afirmando que tudo é objetivo, podendo ser cientificamente com­provado, ora afirmando que não existe objetividade, tudo depen­dendo de quem analisa o fato.
Como em todas as questões, os extremistas se perdem em radicalismos, sendo, assim, difícil chegar a um consenso. É claro que há a realidade objetiva, cientificamente comprovável, mas também há os aspectos humanos envolvidos, já que são pessoas que estu­dam esta mesma realidade.
Isto fica claro nos textos de Machado de Assis e de Fernando Pessoa apresentados. Em ambos, os autores percebem a existência de uma realidade objetiva inegável e, a ela, acrescentam uma outra, a subjetiva, que depende do indivíduo e só existe a partir dele.
Já René Magritte, em seu quadro, corrobora esta opinião, de­monstrando que há certas características dos objetos que podem ser captadas por nós, mas que sua essência não. Por mais perfeita que sua pintura do cachimbo pudesse parecer, ela nunca seria igual a ele, pois ela não passa de uma imagem.
Enfim, o objetivo e o subjetivo existem, mas é importante que, na aceitação de um, não esteja incluída a negação do outro, pois eles coexistem na essência das coisas.

Profª Márcia Garcia
Mestre em Letras e Especialista em Literatura e Ensino de Literatura pela UNESP. Professora de Gramática, Literatura e Redação no CENAPHE (Centro de Aperfeiçoamento Humano Educacional Profª Márcia Garcia).
e-mail: marciaagarcia@yahoo.com.br

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