quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Puc- Paraná: Medicina e ética: uma questão sociopolítica

REDAÇÃO


Leia a coletânea a seguir e selecione o que julgar pertinente para a realização da proposta. Articule os elementos selecionados com sua experiência de leitura e reflexão. O uso da coletânea é motivador. Não será(ão) aceita(s) cópia(s) integral(is) que caracterize(m) seu texto como mera reprodução dos fragmentos da coletânea.
ATENÇÃO – sua redação será anulada se você reproduzir a coletânea ou fugir ao recorte temático ou não atender ao tipo de texto da proposta, ou não obedecer ao limite mínimo (20) e máximo (25) de linhas.


1. Ser ético, ser herói - Renato Janine Ribeiro

Quem viu o filme Casa da Rússia, com Sean Connery e Michele Pfeiffer? Numa certa altura, entusiasmado, o editor inglês que é representado por Sean Connery diz: “Hoje, para alguém ser uma pessoa decente, precisa ser herói”. É uma frase fortíssima, [...]. Mas quer isso dizer que, hoje, para ser ética, uma pessoa tem que ser heróica? Ficou tão difícil a ética, assim?
[..]
Vale a pena irmos, deste filme recente, baseado num livro de John Le Carré, para a tragédia grega Antígona, que Sófocles escreveu no século V antes de Cristo. Penso que toda reflexão sobre a ética deve começar por ela.
Antígona é filha de Édipo. Dois de seus irmãos lutam pelo poder, e ambos morrem. O trono fica então com seu tio, Creonte, que manda enterrar um dos sobrinhos com todas as honras – e deixar o corpo do outro aos abutres. Antígona não aceita isso. Participa do enterro solene de um irmão e depois sepulta, com os ritos religiosos, o outro, o proscrito.
O rei fica furioso. Está convencido de que é uma conspiração contra ele. Manda descobrir quem violou suas ordens. Ao saber que é a sobrinha, tenta poupá-la: se ela negar que foi ela, ou se pedir desculpas, enfim, ele lhe dá todas as saídas – sob uma condição só, de que ela negue o seu ato. Antígona se recusa e é executada.
Essa história é exemplar. Ela mostra que há um conflito latente entre a ética e a lei. [...]
O heroísmo não está só nas personagens da mitologia grega ou nos super-heróis da TV. Ele pode estar presente quando cada um de nós enfrenta uma pequena prepotência, em nome de um valor mais alto – desde, claro, que arque com os resultados de sua ação e que além disso lembre que é falível e pode estar errado. Mas é desses pequenos heroísmos pessoais que depende a dignidade humana.
Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo. É autor de "A sociedade contra o social: o alto custo da vida pública no Brasil" (2000, Prêmio Jabuti de 2001) e "A universidade e a vida atual - Fellini não via filmes" (2003).
Revista ComCiência, 10 de novembro de 2006. (Adaptado)


2. Segundo Aristóteles, o homem é um animal político, pois, na pólis, ele consegue orientar-se pela conduta moral mediada por leis estabelecidas pelos elementos intelectuais (adquiridos no processo de formação) e moral (lapidada pelos hábitos racionais e pela experiência vivida). O homem é, portanto, um receptáculo pronto a receber e experimentar ensinamentos e vivências, sem os quais sua existência ficaria incompleta, sendo comandada apenas pelas vontades. A propósito, eis a razão para a prudência ser tão estimada na pólis aristotélica: somente com a experiência e a inteligência consegue-se antever as consequências de um ato desviante à moral do grupo.
Daniel Rodrigues Aurélio é sociólogo, escritor, bacharel em Sociologia e Política pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.
http://filosofia.uol.com.br/filosofia/ideologia-sabedoria/23/artigo178984-2.asp. Acesso em 06 de junho de 2012. (Fragmento)



3. Capítulo I - Princípios Fundamentais
Art. 1° - A Medicina é uma profissão a serviço da saúde do ser humano e da coletividade e deve ser exercida sem discriminação de qualquer natureza.
Art. 2° - O alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional.
Art. 3° - A fim de que possa exercer a Medicina com honra e dignidade, o médico deve ser boas condições de trabalho e ser remunerado de forma justa.
Art. 4° - Ao médico cabe zelar e trabalhar pelo perfeito desempenho ético da Medicina e pelo pretígio e bom conceito da profissão.
Art. 5° - O médico deve aprimorar continuamente seus conhecimentos e usar o melhor do progresso científico em benefício do paciente.
Art. 6° - O médico deve guardar absoluto respeito pela vida humana, atuando sempre em benefício do paciente. Jamais utilizará seus conhecimentos para gerar sofrimento físico ou moral, para o extermínio do ser humano, ou para permitir e acobertar tentativa contra sua dignidade e integridade.
Art. 7° - O médico deve exercer a profissão com ampla autonomia, não sendo obrigado a prestar serviços profissionais a quem ele não deseje, salvo na ausência de outro médico, em casos de urgência, ou quando sua negativa possa trazer danos irreversíveis ao paciente.
Art. 8° - O médico não pode, em qualquer circunstância, ou sob qualquer pretexto, renunciar à sua liberdade profissional, devendo evitar que quaisquer restrições ou imposições possam prejudicar a eficácia e correção de seu trabalho.
Art. 9° - A Medicina não pode, em qualquer circunstância, ou de qualquer forma, ser exercida como comércio.
(...)
Código de Ética Médica, 2010.

4. “Deveria ter ficado mais tempo clinicando”
O ex-ministro da Saúde José Gomes Temporão diz que sente falta de atender pacientes
"Minha trajetória profissional foi muito sólida do ponto de vista clínico. Sou formado há 35 anos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e me especializei em doenças infectocontagiosas, pegando o caminho da saúde pública. Depois de formado, pratiquei por cinco anos a clínica no ambulatório de uma metalúrgica em Mesquita, na Baixada Fluminense, algo que me dava imenso prazer. Foi muito importante para minha formação como sanitarista escutar o paciente, compreender a dinâmica da doença na comunidade, ainda mais numa área de periferia. [...]
Mas assumi outros trabalhos – como professor e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz. [...]. Minha opção por saúde pública foi fundamental. Cheguei a ministro e não tenho do que reclamar. Mas a verdade é que sinto falta do contato entre médico e paciente. O sanitarista cuida de questões num contexto social e político. Penso na prevenção de doenças ou em como produzir saúde lidando com dilemas estruturais, econômicos, sociais, políticos etc. A dimensão do médico que atende, examina e cuida é totalmente singular. Você está diante do sofrimento real.
[...]. Quando você trabalha na gestão pública, o produto de seu trabalho pode ter um grande impacto para quem está na ponta. Se consigo colocar mais recursos, implementar uma nova política ou construir um novo hospital, causo mudança na vida das pessoas e no trabalho dos profissionais da saúde. Mas, quando se trata de humanizar o atendimento, estamos falando em reconstruir a relação médico-paciente. Isso permite resgatar a ideia da escuta, do toque numa medicina cada vez mais científica e técnica, em que muitas vezes se perde essa perspectiva. Dependendo da primeira abordagem, a pessoa se sentirá muito melhor ou muito pior.
Nenhum médico, mesmo na área de planejamento, pode largar mão do atendimento. [...], se fosse possível voltar no tempo, inventaria uma maneira de dar conta das duas dimensões. Da política, mas sem abrir mão de clinicar e ouvir os doentes. Uma boa base de formação em clínica me parece essencial para a formação de qualquer especialista. Sem isso, ele dificilmente conseguirá ver com toda clareza os desafios reais ao planejar um novo sistema ou ao implantar uma nova abordagem de gestão num serviço de saúde.[...]
Se couber aqui algum tipo de recomendação aos jovens profissionais, diria para ir além da teoria e da prática. Para planejar nossa vida profissional, precisamos, sim, da ciência. Mas essa nem sempre consegue referir-se ao ser humano em sua totalidade. Não é incomum que se recorra às artes e à razão estética para, junto da ética e da política, fazermos nosso trabalho. Se ousasse prescrever algo, hoje, para os colegas médicos e das demais profissões do campo da saúde, seria atenção às questões da política e do poder na sociedade. Leiam tanta poesia quanto literatura científica. Permitam-se atravessar fronteiras de conhecimento para ponderar outras maneiras de pensar, de fazer e de compreender a vida que compartilhamos para melhor exercer sua clínica, a arte do cuidar, planejar, gerir, pesquisar e ensinar."
José Gomes Temporão é ex-ministro da Saúde (2007-2010). Nascido em Portugal, naturalizado brasileiro. Em depoimento a Isabel Clemente. (Adaptado)
Revista Época, 9 de julho de 2012. p.102.


5.
“Coçou a barba com gesto de irritação. Eugênio recostou-se no banco estofado do carro e disse:
- Talvez um dia tenhamos a Medicina socializada...
- Os nossos bisnetos... talvez - rosnou o outro.
- Um grande hospital de urgência, com um perfeito serviço de ambulância, todos os recursos da técnica, muitos médicos...
- Foi falando como quem conta passagens de um sonho maravilhoso.
Eugênio estava satisfeito consigo mesmo. Já não lhe custava falar a linguagem humana. Alegrava-se por ver como nos últimos tempos já pensava menos em si próprio, vivendo mais voltado para fora.
Seixas mordia o cigarro em silêncio, olhando para a rua.
- E quando a Medicina estiver socializada – continuou Eugênio - só seguiriam a profissão médica os que tivessem verdadeira vocação. Veríamos médicos com espírito médico...
- Dois malucos sonhando de olhos abertos dentro de auto de praça...”
VERÍSSIMO, Érico. Olhai os lírios do campo. São Paulo: Editora Globo, 1988. p. 222.
Dados dos dois personagens: Eugênio Fontes, o protagonista, médico formado. Dr. Seixas: amigo de Eugênio e médico de pobres. Para Dr. Seixas, sucesso era conseguir salvar a vida de alguém e aliviar a dor dos outros. Ele reconduz Eugênio, como médico, ao mundo da desigualdade e da pobreza, universo do qual ele, como profissional, sempre tentara fugir.
http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/analises_completas/o/olhai_os_lirios_do_campo. Acesso em 10 de julho de 2012.




Proposta de Redação

Dada a coletânea, elabore sua dissertação a partir do seguinte recorte temático:


Medicina e ética: uma questão sociopolítica


REDAÇÃO –



SOBRE A REDAÇÃO:

Instruções:

1- Discuta alguns pontos que podem ser levantados a partir das reflexões sobre a ética médica, tais como:

a) Implicações éticas do exercício profissional do médico: os cuidados para com os pacientes e os reflexos na sociedade.

b) Implicações políticas do Código de Ética Médica de 2010: os limites profissionais do médico.

c) Implicações sociais ligadas à ética médica: o atendimento em saúde pública e o atendimento privado.

2- Trabalhe seus argumentos a fim de explicitar a(s) relação(ões) entre os pontos a), b) e c), que são complementares.

3- Explore os argumentos de modo a justificar seu ponto de vista.

4- Seu texto deverá ter no mínimo 20 a no máximo 25 linhas.

5- O título não é obrigatório.

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