quarta-feira, 3 de outubro de 2012

REDAÇÃO




Anomalia sistêmica

É por demais comum ver-se o escândalo que desperta uma mulher grávida quando, por razões quaisquer, envenena-se – sobretudo pela ingestão de narcóticos – e, por conseqüência, a seu filho. Sua sanidade é facilmente questionada então, pois seu comportamento é indicativo de grave perturbação (ou anomalia) sistêmica.
Desde a Revolução Industrial, contudo, a humanidade vem canalizando sua energia para, de maneira cada vez mais eficiente (“produtiva”), destruir o meio ambiente (embora não fosse este seu objetivo) e, consequentemente, a si mesma, desempenhando, assim, o papel dessa mãe infanticida.
Sob a óptica da eficiência produtiva, rios têm seus cursos desviados para construção de hidrelétricas, quando não recebem a indesejável descarga dos esgotos das cidades ou resíduos mortais da poluição química. Desmatamentos e queimadas eliminam as matas ciliares provocando assoreamento dos cursos d'água ou deslizamentos dos morros. Lixo atômico e petróleo são despejados nos mares sem a devida cautela.
Sob a mesma óptica, justifica-se, por exemplo, a intensa exploração de petróleo, a qual recentemente resultou no derramamento de milhões de litros desse combustível fóssil no Golfo do México; a abertura, no Brasil, da Transamazônica, que, a pretexto de desenvolver a região, acabou por permitir a incursão de empresas madeireiras, algumas até multinacionais, acelerando o desmatamento e tornando desertas várias extensões de terra e a liberação da construção da Usina de Belo Monte, sem que se saibam exatamente os impactos ambientais que disso resultarão.
A livre subjugação do homem a determinações econômicas, sua submissão ao imperativo econômico da valorização do dinheiro como um fim em si mesmo têm levado à destruição dos ecossistemas e, consequentemente, a própria destruição do homem, o qual parece insensível aos problemas que vêm causando. No entanto, são vistos, todos os dias, os resultados dos crimes silenciosos e contínuos perpetrados contra o meio ambiente. É o câncer da pele, são as doenças respiratórias, é o agravamento de doenças cardíacas, são as mortes provocadas por ondas de calor ou por excesso de chuva. O homem parece se esquecer de que o mal por ele praticado se volta cada vez mais contra ele mesmo.
Certamente sem paralelo na História, o homem vem se comportando de forma infanticida em relação ao meio ambiente, o que pode ser considerado sinal inequívoco de grave anomalia sistêmica. Se, o dito animal racional, cujos olhos parecem estar vidrados nos rendimentos financeiros, continuar envenenando seu meio ambiente, provocará, em muito pouco tempo, o colapso de sua civilização. Notará, então, que, acima de quaisquer interesses econômicos, estava sua própria sobrevivência. Só que tal constatação será fatalmente tardia. (redação adaptada)

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