sexta-feira, 23 de março de 2012

PREPARAÇÃO PARA O 2 º SIMULADO - 30 DE março

PREPAREM-SE PARA O NOSSO PRÓXIMO SIMULADO ESTUDANDO O MATERIAL APRESENTADO A SEGUIR.

1. Argumentação e contra-argumentação

Método de investigação: assim que se pensou em algo, procurar em que sentido o contrário é verdadeiro. (Simone Weil)

A experiência de pensar o ponto de vista e a argumentação dos outros, principalmente dos que têm posições contrárias às nossas, representa um salto de qualidade em nossa capacidade dissertativa. Nosso pensamento fica mais aberto, mais maduro, mais crítico. Precisamos desenvolver essa capacidade de pensar opiniões, raciocínios, argumentos diferentes dos nossos, e mesmo os opostos. Por exemplo, no tema Nenhum homem é uma ilha você saberia dizer qual seria um argumento de alguém que pensou o contrário do que você pensa? Experimente descobrir um argumento que está fundamentando uma opinião oposta à sua, e, em seguida, examine-o atentamente. Veja em que medida ele está ou não com a razão, está ou não sendo válido. No caso de você continuar com a sua posição inicial, procure, então, contra-argumentar: procure derrubar esse argumento oposto, procure demonstrar que ele não está com razão. Você vai se tornando capaz de argumentar e de contra-argumentar, capaz de defender as suas ideias e de refutar ideias contrárias às suas.

Leia esta redação, e procure identificar os argumentos que foram usados. Mesmo que você concorde com eles, vamos fazer um exercício: você vai tentar derrubar esses argumentos, você vai fazer uma.

Atenção: faça a identificação dos argumentos e a refutação deles apenas mentalmente, sem escrever nada. É apenas um treino.

Redação:

“Nenhum homem é uma ilha”

Nenhum homem é uma ilha, porque por mais solitário que ele seja, sempre terá alguém ao seu lado, dando aquela força. O homem nunca poderia ser uma ilha, pois está sempre procurando novas coisas, novas emoções, sempre se envolvendo com gente nova, por mais desconhecido que seja.
Mesmo que a pessoa fosse muito, muito solitária, nunca poderia ser comparada a uma ilha. Na verdade, a ilha está sempre solitária. A ilha, por mais feia e sombria que seja sempre terá alguém por perto: as aves, as pedras, as árvores, a água do mar, os peixes etc.
Por isso e por muitas outras coisas, um homem não pode ser uma ilha, porque ele acima de tudo é um ser humano e por ele ser um ser humano sempre terá alguém o amando ou o querendo bem, por mais longe que esteja ou por mais feio e sombrio que ele seja. (Angelo)

Você percebeu quantos contra-argumentos poderia elaborar, através de uma leitura atenta desta dissertação? Por exemplo:

1º parágrafo: Será que realmente sempre temos alguém ao nosso lado, dando "aquela força"? E nos momentos em que isso não ocorre?
Será que o fato de procurarmos coisas novas, envolver-nos em novas emoções e novas pessoas, significa necessariamente encontrarmos o que procuramos?
2º parágrafo: A analogia entre homem e ilha é bonita, porém, podemos questioná-la. A ilha é um lugar, um cenário feito de coisas da natureza que se completam harmoniosamente. O homem, por sua vez, é um ser social, cultural, que precisa não só estar perto de outros homens mas também se relacionar com eles, conviver. Estar perto dos outros nos torna necessariamente menos solitários?
3º parágrafo: E se o homem, enquanto ser humano, não se sentir amado, querido pelos outros? Será impossível ele se sentir uma ilha?

(...) Como você está vendo, há argumentos que comprovam e argumentos que negam o tema proposto. Desenvolvê-lo dissertativamente, de acordo com o método sugerido, significa assumir um ponto de vista, argumentar a seu favor, imaginar uma contra-argumentação e, finalmente, refutá-la, reafirmando o ponto de vista.

2. “TOMAR A DEFESA DE...”

“A História em quadrinhos é um gênero menor?”

O que muitas pessoas pensam
- Exagero de imagens nas H.Q. As H.Q. levam os jovens à preguiça.
- As H.Q. são escritas em linguagem ruim. As H.Q. são responsáveis pelo mau aproveitamento dos alunos em relação à linguagem.
- As H.Q. não são uma arte, pois podemos encontrá-las em todos os jornais. As H.Q. não têm lugar na escola.


Entretanto...
- A leitura das H.Q. ajuda os jovens a apreciarem melhor o cinema e a televisão.
- As H.Q. podem ajudar e preparar os jovens para ler, mais tarde, romances (intriga, personagens...)
- A arte viva não está no museu. Sendo publicada nos jornais, as H.Q. são uma arte ao alcance de todos.



Como responder, pois, à questão colocada?



1) exposição rápida da questão, tal como ela é vista pelo adversário.
Os jovens de hoje lêem apenas H.Q. e, por esta razão, são incapazes de ler o mais simples romance. Por causa delas, os jovens não mais manifestam o menor interesse pela grande literatura. Tais são as reflexões que ouvimos frequentemente sobre este assunto.

2) 1º argumento do adversário
É certo que as H.Q. são de leitura mais fácil, graças às imagens. Sua leitura reclama menos esforços e pode, assim, levar certos leitores à preguiça.

3) 2º argumento do adversário
Certamente também, a linguagem utilizada nas H.Q. não é sempre de excelente nível e esta leitura não contribuirá para a melhora da maneira de se exprimir de certos jovens.

4) 3º argumento do adversário
É verdade ainda, que as H.Q. são publicadas em jornais que não apresentam interesse no plano cultural, o que pode fazer com que muitos digam que elas não são uma arte, não podendo assim ter um lugar na escola.

5) 1ª conclusão que parece aprovar as teses do adversário
Compreende-se muito bem, pois, que certos educadores possam fazer julgamentos tão severos sobre as H.Q.

6) Transição
Entretanto, apesar de seus defeitos, as H.Q. merecem mais indulgência. Seu sucesso junto à maioria dos jovens prova que elas apresentam um certo interesse.

7) 1ª réplica
Antes de mais nada, pela utilização de imagens, as H.Q. podem ajudar a apreciar melhor o cinema e a televisão.

8) 2ª réplica
A seguir, elas podem preparar para ler, mais tarde, os romances, na medida em que a história se desenvolve de maneira idêntica (intriga, personagens etc.).

9) 3ª réplica
Finalmente, o fato de serem publicadas nos jornais não justifica a condenação das H.Q. Uma arte viva não se encontra num museu. Nos jornais, ela se encontra ao alcance de todos.

10. Conclusão geral
Vê-se por tudo que precede, que é preciso não hesitar em modificar certos julgamentos muito severos sobre um fenômeno que apaixona jovens e adultos.

“Quando tomamos a defesa de alguém ou alguma coisa, respondemos a críticas que já foram feitas. Poderíamos nos contentar com a exposição dos argumentos favoráveis ao ponto-de-vista que queremos defender. Mas é muito mais hábil lembrar os argumentos do adversário para poder, em seguida, responder a eles. Mostramos assim que estamos a par das críticas que foram feitas, que conhecemos as acusações que foram colocadas. Desta forma, nossa defesa parecerá mais sólida.”


Colocação do assunto
1) Lembrar a posição geral do adversário, isto é, aquilo que ele tem o hábito de dizer.
...tais são as reflexões...
...escuta-se frequentemente dizer...


Exposição das críticas do adversário
2) Retomada da exposição das críticas do adversário. Reconhecemos que ele pode ter razão e que seu ponto de vista pode ser justificado. Desta forma, o leitor lhe será mais favorável (a você, que escreve). Podemos utilizar:
- fórmulas de concessão
- procedimentos de enumeração
-exemplos

Esta primeira parte se fecha por uma conclusão provisória. Parece que aprovamos o ponto de vista do adversário.
...é certo que...
...é verdade que...
...pode ser que...
...tal (afirmação) pode levar a crer que...
Sem dúvida...mas...
Pode-se perfeitamente admitir que (...), entretanto
Compreende-se então que...
Pode-se assim justificar...


Transição
3) Transição: passamos da exposição dos argumentos do adversário a sua crítica.
Entretanto / no entanto / contudo / todavia / porém etc...

Respostas às críticas
4) Respondemos às acusações do adversário, enumerando uma certa quantidade de argumentos.
Inicialmente...
Primeiramente...
A seguir...
Por outro lado...
Quanto a...
Enfim...
Finalmente...


Conclusão
5) Conclusão geral que contradiz a opinião do adversário, que já havia sido exposta na introdução.
Vê-se por tudo que precede...
Compreende-se pelo que já se disse...
Percebe-se, pois, que...


(Escrever e convencer. Gérard Vigner. In: Redação: escrever é desvendar o mundo. Severino A. M. Barbosa)

Exercício:

Análise de textos em que se observa, de maneiras diversas, a presença de argumentação e contra-argumentação.

Tema 1: (FUVEST 1999): Como você avalia a jovem geração brasileira que constitui a maioria dos que chegam ao vestibular? Situada, em sua maior parte, na faixa etária que vai dos dezesseis aos vinte e um anos, que características essa geração apresenta? Que opinião você tem sobre tais características?


Juventude contrastes

A juventude do fim do século é, muito comumente, encarada sobretudo sob seu lado negativo. São apontadas constantemente, por exemplo, o freqüente uso de drogas, a rebeldia e a negação dos mais diversos valores tradicionais, a tendência à “cultura do lixo”. Apesar de ser inquestionável a existência de um “espírito jovem” que independe da geração em questão, o comportamento dos jovens é, seguramente, conseqüência da sociedade em que vivem.
Dessa forma, a geração atual é produto do seu tempo, e é daí que surgem os evidentes aspectos negativos. Portanto, é inegável que grande parte dos jovens carrega na sua natureza básica os mais diversos valores distorcidos: violência, falta de respeito, rebeldia, entre dezenas de outros. Porém, é também inegável que a mídia e a própria sociedade atual têm um papel fundamental nesse tipo de formação.
Apesar de ser menos discutido, existe um forte lado positivo da juventude atual: ela é fruto da “era da informação”, e de um mundo extremamente modernizado. Nunca antes uma geração teve acesso tão rápido e eficiente à informação em geral, ou liberdade para discutir e questionar temas. Consequência disso é a maior produtividade do processo de educação e ensino, e maior interesse e consciência por parte dos jovens em relação ao mundo que os rodeia.
Submetida simultaneamente a influências tão contrastantes, a juventude assume um comportamento heterogêneo, mas é comum à maioria a contestação e o inconformismo. O acesso ao conhecimento traz consigo o desejo de mudanças sociais. Claro exemplo disso no contexto brasileiro é a luta pelo “impeachment” de Collor, à qual os jovens uniram-se e deram força.
Como análise final, a geração jovem do fim do século passa por rápidas e constantes transformações, paralelamente a um mundo com o qual acontece o mesmo. É seguro afirmar que, apesar dos fatores desfavoráveis, vem ocorrendo um progresso na forma de agir e pensar da juventude. Faz-se necessário que haja mobilização da sociedade para que esse progresso tenha continuidade e seja aprimorado.

Tema 2: O acordo de unificação ortográfica


O custo supera o benefício

A idéia de uma ortografia igual para todos os (hoje oito) países lusófonos é sustentada por este argumento, apresentado pelo grande Antônio Houaiss (o pai brasileiro do "Acordo") no "Breve Histórico da Língua e da Ortografia Portuguesa": "A existência de duas grafias oficiais da língua acarreta problemas na redação de documentos em tratações internacionais e na publicação de obras de interesse público". Sim, isso é fato.
Um sueco que queira estudar português pode ficar em dúvida entre "adoptar" (Portugal) e "adotar" (Brasil), por exemplo. Nesse caso, o "Acordo" abrasileira a grafia, o que desagrada aos portugueses, habituados (há décadas) ao "p" e ao "c" "mudos" de diversas palavras.
E como faria o sueco se tivesse de optar entre "cômodo" (Brasil) ou "cómodo" (Portugal)? Jogaria uma moedinha para o alto, visto que, nesse e em muitos outros casos, o projeto de unificação não unifica...
Mas o "Acordo" não se limita a "uniformizar" a grafia: aproveita a ocasião para estabelecer outras alterações no sistema ortográfico. A mais marcante talvez seja a que dispõe sobre o emprego do hífen. O que hoje é muito ruim muda para... Para igual ou pior. A mudança nos diferenciais de tonicidade é outro ponto negativo. Na ânsia de eliminar acentos mais que inúteis, como o de "pêra" e "pólo", elimina-se também o de "pára" (verbo), mais que essencial.
Some-se a tudo isso o desconforto da inevitável convivência - por um longo período - com duas grafias (a "nova", que seria vista nos jornais e revistas, por exemplo, e a "velha", que estaria diante de nós nos livros, enciclopédias etc.) e se chega à conclusão de que o custo supera os benefícios. Quem viveu a reforma de 1971 sabe bem do que estou falando. É isso. (Pasquale Cipro Neto)

Fonte:

Redação: escrever é desvendar o mundo. Severino Antônio M. Barbosa.

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