sexta-feira, 23 de março de 2012

REDAÇÕES NOTA 10 SOBRE O TEMA "TUDO É RELATIVO? A REALIDADE É UMA ILUSÃO?"

1.

A simbologia dos objetos

A questão da ilusão versus realidade é bastante debatida atualmente, mas é difícil chegar a um consenso a este respeito, pois cada um enxerga uma realidade, e dentro dessa realidade há diversas realidades.
No mundo há várias sociedades, e cada sociedade possui uma escala de valores, uma linguagem comum, incentiva certas associações, como a que o carro novo traz prestígio, e desincentiva outras. Através desta linguagem comum, os valores éticos, estéticos da sociedade fluem com maior facilidade e, assim, a sua ideologia propaga. Porém , a imposição destes padrões não consegue impedir a existência de um mundo subjetivo em cada indivíduo.
Cada indivíduo, por outro lado, vê a realidade de acordo com a sua vivência, sua formação, as quais geram um determinado ponto de vista sobre o mundo, sobre as pessoas e dão origem a uma linguagem interior. Dentro desta linguagem os objetos possuem uma simbologia, estão associados a uma lembrança e assumem valores conotativos: um brinco de argolas pode ser Maria, um cacho de uvas, uma cidade etc. O surrealismo é uma corrente artística que procura representar a simbologia inconsciente, assim como para Dali as mulheres são formigas, ele não pinta mulheres, e sim formigas, para Magritte, um cachimbo pode significar charme, ou detetive, ou velhice etc.
Porém, não podemos nos esquecer de que o principal objetivo de todas as formas de linguagem é a comunicação, é para nos comunicarmos que aprendemos o nome dos objetos. A realidade inventada pela sociedade deve ser preservada através do sentido denotativo das palavras, visando a um menor desentendimento entre as pessoas, já que o entendimento é uma utopia.


2.

Arte, uma realidade

A casinha era maior e menor. O Tejo é o mais belo rio e o Tejo não é o mais belo rio. O quadro retrata o cachimbo, e a inscrição afirma que não se trata de um cachimbo. A afirmação e a negação. Será tudo relativo? Será tudo uma ilusão?
A realidade tem sido objeto de investigação pelo homem através da ciência, da religião e das artes. Sua abordagem, portanto, difere nos métodos e nos fins a que se destina, podendo ser rigorosa, leviana, escamoteadora, científica e, por que não?,sonhadora.
Um dos aspectos, a meu ver, mais instigadores da questão da realidade é sua relação com a arte, com a ficção. Parafraseando Machado, voltemos ao quadro do pintor surrealista. Por que teria Magritte negado a existência do cachimbo diante da evidência do retrato? Talvez para nos fazer ver que não estamos diante de um cachimbo. Desta forma, ele nos remete à ideia da realidade e da “representação” que pode ser tão rica, tão repleta de dados, tanto objetivos quanto subjetivos que vai afinal nos trazer de volta à realidade. Como uma viagem, um mergulho, do qual voltamos mais plenos. A afirmação e a negação da beleza do Tejo são fundamentais para que percebamos o que sente Alberto Caeiro pela sua aldeia.
Através da arte, podemos perceber o quanto a realidade é repleta de nuances e detalhes, sendo a ilusão apenas um de seus aspectos. E a própria arte é apenas uma das muitas possibilidades de abordagem da realidade, mas, a meu ver, tão fundamental para o ser humano quanto a ciência. (Redação nota máxima)


3.

Sobre cachimbos e não-cachimbos

Cachimbo é um instrumento usado por fumantes, feito de madeira, oco e que tem a forma de uma longa haste terminando em chaminé. Temos uma sequência de sons e símbolos gráficos, para simbolizar tal objeto. Há quadros que o representam visualmente. Mas o que aconteceria , caso um cachimbo fosse parar num planeta habitado por seres que nem imaginam o que é fumar? O que seria tal objeto para eles? E se a vida humana desaparecesse: o que significaria, para um arqueólogo de Alfa Centauro, a sequência dos símbolos c-a-ch-i-m-b-o? E a sequência sonora correspondente, que houvesse sobrevivido em uma fita gravada?
Por mais paradoxal que possa parecer a afirmação, a relatividade é uma certeza absoluta. Um cachimbo é um cachimbo para quem sabe o que é um cachimbo. Para quem não sabe é apenas um pedaço de madeira oco, aberto a interpretações que pode servir para qualquer coisa e receber qualquer nome.
Mas seria válido, tomando como justificativa essa multiplicidade de interpretações, dizer que a realidade é uma ilusão? Não acho. O objeto “cachimbo” não deixa de ser real por não sabermos o que ele é ou por darmos a ele uma interpretação da realidade, apenas porque nossos conceitos são dúbios, equivale a dizer que a existência só é real quando legitimada por nosso conhecimento. Será que, quando morrermos, o mundo deixará de ser real?
Francamente, afirmar que tal coisa seria dar uma importância grande a um macaco sem pelos... (Redação nota máxima)


4.

O respeito à objetividade e à subjetividade dos fatos


Discussões sobre objetividade e subjetividade vêm ocorrendo há séculos, sendo que os defensores de ambos os lados procuram definir os limites entre o que é objetivo e o que é subjetivo. Muitos nomes importantes da ciência e da filosofia envolveram-se nestas discussões, sendo que vários caíram nos extremos opostos, ora afirmando que tudo é objetivo, podendo ser cientificamente comprovado, ora afirmando que não existe objetividade, tudo dependendo de quem analisa o fato.
Como em todas as questões, os extremistas se perdem em radicalismos, sendo, assim, difícil chegar a um consenso. É claro que há a realidade objetiva, cientificamente comprovável, mas também há os aspectos humanos envolvidos, já que são pessoas que estudam esta mesma realidade.
Isso fica claro nos textos de Machado de Assis e de Fernando Pessoa apresentados. Em ambos, os autores percebem a existência de uma realidade objetiva inegável e, a ela, acrescentam uma outra, a subjetiva, que depende do indivíduo e só existe a partir dele.
Já René Magritte, em seu quadro, corrobora esta opinião, demonstrando que há certas características dos objetos que podem ser captadas por nós, mas que sua essência não. Por mais perfeita que sua pintura do cachimbo possa parecer, ela nunca será igual a ele, pois ela não passa de uma imagem.
Enfim, o objetivo e o subjetivo existem, mas é importante que, na aceitação de um, não esteja incluída a negação do outro, pois eles coexistem na essência das coisas. (Redação nota máxima)

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