domingo, 5 de junho de 2011

ASSÉDIO MORAL

Assédio moral nas organizações

Rodilon Teixeira (*)


Este individualismo e a conduta do “cada um por si” de nossos tempos apenas têm criado condições favoráveis para as condutas perversas de assédio moral.
“Uma palavra contundente é algo que pode matar ou humilhar, sem que se sujem as mãos. Uma das grandes alegrias da vida é humilhar seus emelhantes.” Pierre Desproges.
As reflexões e estudos sobre a violência no local de trabalho, nos últimos anos, têm-se intensificado bastante. Com isso, os meios de comunicação, através da imprensa, têm pautado o assunto, assim como a diversidade de títulos bibliográficos e até mesmo produções cinematográficas. Mesmo assim, ainda existem muitas questões a serem esclarecidas e divulgadas para a grande massa de trabalhadores, que sofrem esta violência cotidianamente sem ao menos terem consciência do que está acontecendo. Bem como para as organizações e instituições públicas que acumulam grandes perdas devido ao custo elevado em saúde mental e física e as conseqüências da desestruturação no ambiente de trabalho.
Primeiramente é necessário salientar que os maus tratos sempre existiram, mas foram intensificados nos modelos de produção que buscam o aumento da produtividade originada de um modo de produção escravocrata baseado no excesso de poder e em hierarquias fortemente autoritárias. Assim, podemos afirmar que a “Era da Globalização“, em que verificamos os avanços tecnológicos e científicos como Internet, genoma e célula-tronco, com meios de comunicação diminuindo cada vez mais as “distâncias globais”, não criou o assédio moral. Mas, ao mesmo tempo, vivemos em uma sociedade em que as pessoas sequer conseguem conversar com seus vizinhos ou mesmo, em muitos casos, com seus familiares e que também não sabem quem são as pessoas que trabalham ao seu lado durante todo o dia. Este individualismo e a conduta do “cada um por si” de nossos tempos apenas têm criado condições favoráveis para as condutas perversas de assédio moral.
O assédio moral em um local de trabalho pode ser definido, segundo Hirigoyen (2003), como toda e qualquer conduta abusiva, manifestando-se, sobretudo, por comportamentos, palavras, atos, gestos, escritos que possam trazer dano à personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa, pôr em perigo seu emprego ou degradar o ambiente de trabalho.
Em uma conduta de assédio algumas situações podem ser verificadas, como por exemplo: a) ela estabelece-se sutilmente; b) a “vítima” não tem consciência do que está ocorrendo; c) não há conflito explícito; d) o agressor freqüentemente é o chefe, mas não necessariamente; e) a vítima apresenta diferenças com respeito a padrões estabelecidos. Porém, diversos podem ser os motivos que geram esta conduta, mas os que mais ocorrem são os de causas raciais, religiosas, deficiência física, orientação sexual ou mesmo representantes de funcionários ou sindicatos.
O assédio, segundo Hirigoyen (2003), desenvolve-se em duas fases. A primeira é a sedução perversa, em que o perverso realiza o envolvimento da vítima chamado também de enredamento. Nesta fase ocorre a desestabilização da pessoa “agredida” e com isso ela perde a autoconfiança e torna-se mais indefesa. A segunda fase é a da violência (manifesta), estando a vítima já envolvida passando a ser manipulada pelo perverso como se fosse um objeto, nesta fase ocorre também a ocultação do problema por medo de
perder o emprego. Durante este processo, a vítima apresenta sintomas como
dores generalizadas, sentimentos de inutilidade, depressão, aumento da pressão arterial, dores de cabeça, entre outros, que acabam gerando transtornos psíquicos que podem ser irreversíveis.
Nestes momentos de humilhação, a solidariedade dos colegas de trabalho dificilmente aparece, o que poderia amenizar ou evitar tal situação.
Com isso, o perverso consegue conquistar seu objetivo, que pode ser conquistar o poder, manter-se nele ou mesmo mascarar a própria incompetência. O perverso no fundo não passa de um invejoso que busca induzir os outros a usar seus mecanismos para depois levá-los a perverter as normas.
Assim, para que não tenhamos a proliferação de situações de assédio moral nas organizações é necessário que ocorra uma reeducação de valores éticos e morais oriundos de uma mudança cultural profunda em nossa sociedade, bem como incentivar a prática do diálogo constante e permanente, baseado no respeito mútuo e no companheirismo.


Referências:
HIRIGOYEN, Marie-France. Assédio Moral: a violência perversa no cotidiano.
Rio de Janeiro, 6ª Ed., Bertrand Brasil, 2003 224 p.
(*) É Administrador e Especialista em Recursos Humanos – Contato:
rodilon@via-rs.net

http://www.assediomoral.net/publicacoes/Assedio%20Moral%20nas%20Organizacoes%20(Rodilon%20Teixeira).pdf








Bullying na escola e na vida

Rosana Maria César Del Picchia de Araújo Nogueira
Kátia A Kühn Chedid

Este é um problema que afeta as nossas escolas, comunidades e toda a sociedade.
Existe violência moral, intimidação ou bullying nas escolas de todos os países. O certo é que este comportamento não está restrito a nenhum tipo de instituição. Além disso, a única forma de evitá-lo é uma ampla discussão com pais, professores e alunos e a orientação particular de casos observados.
Nossas crianças, ou a maioria delas, estão em contato com atos violentos em todas as esferas de seu relacionamento. Comportamentos de pressão, opressão, intimidação, gozação, perseguição são comuns em seu dia-a-dia. Obviamente, nem todos estes acontecimentos podem ser caracterizados como bullying. Alguns episódios esporádicos e
brincadeiras próprias de cada faixa etária, mesmo com comportamentos inadequados não
trazem conseqüências para a auto-estima das crianças e fazem parte de seu desenvolvimento e de sua socialização.
O bullying é um comportamento que é recorrente e causa baixa auto-estima e insegurança em seus atores. Normalmente existem três tipos de envolvidos em uma situação de violência moral: o espectador, a vítima e o agressor.
O espectador é aquele jovem ou criança que vê diariamente as situações de bullyinge torna-se inseguro e temeroso. Ele não conta suas impressões por receio de tornar-se alvo ou por ter sido ignorado pelos adultos nas tentativas que fez de comentar certos fatos.




Conto de Escola

Fragmento


Machado de Assis


– Dê cá a moeda que este seu colega lhe deu! clamou.
Não obedeci logo, mas não pude negar nada. Continuei a tremer muito. Policarpo bradou de novo que lhe desse a moeda, e eu não resisti mais, meti a mão no bolso, vagarosamente, saquei-a e entreguei-lha. Ele examinou-a de um e outro lado, bufando de
raiva; depois estendeu o braço e atirou-a à rua. E então disse-nos uma porção de coisas duras, que tanto o filho como eu acabávamos de praticar uma ação feia, indigna, baixa, uma vilania, e para emenda e exemplo íamos ser castigados. Aqui pegou da palmatória. [...]
Estendi-lhe a mão direita, depois a esquerda, e fui recebendo os bolos uns por cima dos outros, até completar doze, que me deixaram as palmas vermelhas e inchadas. Chegou a vez do filho, e foi a mesma coisa; não lhe poupou nada, dois, quatro, oito, doze bolos.
Acabou, pregou-nos outro sermão. Chamou-nos sem-vergonhas, desaforados, e jurou que
se repetíssemos o negócio apanharíamos tal castigo que nos havia de lembrar para todo o sempre. E exclamava: Porcalhões! tratantes! faltos de brio!


Os dois textos falam – de uma ou de outra forma – sobre a violência na escola, que, seja no século XIX, seja no século XXI, tem assumido as mais variadas facetas.
Redija um texto em prosa sobre esse assunto – mínimo de 20 e máximo de 30 linhas. Você pode dissertar ou fazer um relato (ficcional ou não) de um episódio envolvendo o tema.



http://www.ifpa.edu.br/arquivos/noticias/2008/Vestibular3-2008/PROVA.pdf


Análise de "Conto de Escola", de Machado de Assis

Bloco de Conteúdo
Língua Portuguesa


Ambientado no Rio de Janeiro de 1840, Conto de Escola narra as lembranças de Pilar de um dia nada agradável da sua infância, quando ele era menino e cursava os primeiros anos escolares. Pilar é o próprio narrador do que aconteceu naquela segunda-feira fatídica. Dê atenção às palavras e expressões desconhecidas. Ajude os alunos a descobrir os significados pelo contexto. Elabore um glossário com as palavras e expressões do texto menos usuais. Monte um painel com elas e deixe à vista de todos para consulta, quando necessário. Faça uma leitura colaborativa, ou seja, você e os estudantes lêem em conjunto, passo a passo. Por meio dessa atividade, você ensina a ler, à medida que vai explicitando as estratégias e procedimentos que um leitor proficiente utiliza. "Leitura colaborativa é uma atividade em que o professor lê um texto com a classe e, durante a leitura, questiona os alunos sobre as pistas lingüísticas que possibilitam a atribuição de determinados sentidos", explicam os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa, de 1ª a 4ª série. Como a leitura colaborativa exige uma leitura com pausas, questionamentos e intervenções constantes do professor, reserve um bom tempo para essa prática. Por meio dela, leve o aluno "a elaborar hipóteses (antecipação); confirmá-las ou refutá-las (checagem) à medida que se avança na leitura; a identificar novas hipóteses e justificá-las com base no sentido já atribuído e em pistas lingüísticas; a estabelecer relações com a realidade, diferenciando realidade e ficção, entre o conteúdo do texto em discussão e outros textos já trabalhados (intertextualidade); a identificar o significado de palavras com base no contexto (inferência local); a sintetizar as idéias nele contidas (generalização); a identificar as intenções do autor etc. São alguns aspectos de conteúdos de leitura relacionados à compreensão do texto, para a qual a contribuição da leitura colaborativa é essencial." Inicie a leitura do conto situando a história. O lugar era a escola, um sobradinho de grade de pau, que ficava na Rua do Costa. A época era o ano de 1840, e tudo aconteceu numa segunda-feira, do mês de maio. Leia parágrafo por parágrafo. Peça que identifiquem a idéia principal de cada um. Oriente-os para que identifiquem o(s) parágrafo(s) que conta(m):

- A dúvida do narrador, se vai ou não para a escola naquela segunda-feira.
- Como era o pai de Pilar.
- Por que o pai queria que ele fosse caixeiro.
- Como era o mestre.
- Como era Raimundo.
- Como era Pilar.
- Como era o Curvelo.
- Em que época política estava o Brasil.
Discuta a hesitação do menino Pilar. Ele não tinha certeza se ia ou não à escola naquela manhã de segunda-feira. O que ele decidiu? Qual foi o motivo dessa decisão? Continue a discussão: que expressão do texto indica que Pilar era estudante do Ensino Fundamental I? O que Raimundo queria que Pilar fizesse para ele? Por que Raimundo demorou tanto para dizer o que queria? Que trecho do texto indica que Pilar estava muito ansioso para saber o que Raimundo queria dele? Qual era a idade do Curvelo? Qual era a idade aproximada do Raimundo e do Pilar? Por que o professor lia o jornal com tanto interesse? O que aconteceu do momento em que Raimundo mostra a moedinha para Pilar até quando o mestre descobre tudo? Como o mestre ficou sabendo de tudo? Como o mestre castigou os meninos? Pilar deseja se vingar de Curvelo. Por que ele não consegue se vingar? Como foi a manhã seguinte? O que aconteceu com as calças novas que Pilar ganhara da mãe? Como ele reagiu ao escutar o tambor do batalhão dos fuzileiros? Pilar foi para a escola?


http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/pratica-pedagogica/analise-de-conto-de-escola-426217.shtml






Agressão sobre "patinhos feios" é indício de delinqüência escolar

Apesar dos festejos que tomaram os idos de outubro, "mês das crianças", vítimas de bullying não vêem motivos para comemorar. O fenômeno internacional, resultado de atitudes agressivas intencionais e repetitivas entre estudantes que disputam poder, afeta a vida de 40,5% da população infantil carioca, segundo pesquisa realizada em 2002 pela ABRAPIA (Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência), envolvendo 5.875 estudantes de 5ª à 8ª séries, de 11 escolas localizadas no município.
Nas escolas, nos clubes e nos cursos de idioma há, pelo menos, uma criança que é alvo de rejeições. O desajuste infantil - gerado pela sensação de não-pertencimento ao código social - é pretexto suficiente para a chacota geral ou, em muitos casos, é fruto dela. O drama, apesar de não ser recente e de atingir instituições públicas e privadas, somente agora é reconhecido como um distúrbio social a ser combatido por orientadores escolares.
Segundo a psicoterapeuta especializada em terapia infantil pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Existencial do ISECENSA - Campos dos Goytacazes, Cristiana Pizarro, "os alvos, em geral, são pouco sociáveis e detentores de um forte sentimento de insegurança, que os impede de solicitar ajuda, além de não disporem de status, recursos ou habilidade para cessarem os atos danosos contra si".
De acordo com os resultados do programa, os traumas sobre a vítima são complexos e exigem imediatos diagnóstico e tratamento, bem como sua repercussão social. Muitas crianças passam a ter baixo desempenho escolar, resistem a freqüentar a instituição de ensino e abandonam os estudos precocemente. O bullying pode gerar, ainda, casos de depressão e de suicídio entre jovens que não recebem a devida orientação escolar ou familiar a tempo. Já os praticantes do bullying, de acordo com a psicóloga, "tornam-se, muitas vezes, adultos com atitudes violentas e anti-sociais, podendo adotar, inclusive, comportamentos delinqüentes ou criminais".
- Eu era um "patinho feio" que conseguiu derrubar o estigma, mas ainda hoje sofro as conseqüências da agressão. De uma criança falante passei a assumir a introspecção e a timidez como defesa. Rasgava e escondia convites de aniversários porque sabia que me humilhariam por meus óculos fundo de garrafa, pernas finas, meias bordadas pela avó e, para completar, por meu bom desempenho escolar. Agora, apesar de muito sociável, sofro, sobretudo, em situações de concorrência profissional, quando a insegurança prevalece - declara a jornalista e estudante de Artes Cênicas, Luiza Gomes.
Para a psicóloga, a saída pelo consumo é bastante usual, o que amplia o mal-estar social e a síndrome do ter para suprimir lacunas.
- Aproximar-se de um modelo estético e comportamental tornou-se pré-requisito em qualquer ambiente de sociabilidade, sobretudo para o indivíduo em fase de formação. A constante busca por aceitação condena o jovem ao cárcere da multiplicidade padrão, ou seja, desde muito cedo, tornamo-nos joguetes dentro do mesmo, proibidos de qualquer rasgo de autenticidade, regrados pelo vazio do descartável. O diferente ameaça o limiar de conforto da polis e é sumariamente expelido pela conveniência da imagem. Um simples "desvio" ao previsível é considerado nocivo ao corpo social, para muitos, beirando inclusive a patologia. É emergencial que se trabalhe para reverter essa lógica. A saúde social não está na eliminação da curva, mas na possibilidade da igualdade pela diferença.
Apelidar, agredir, difamar, ameaçar e pegar pertences são apenas algumas das "brincadeiras" físicas e psicológicas a que está suscetível qualquer criança que, intimidada, possivelmente não irá motivar adultos a agirem em sua defesa. Portanto, mais do que diagnosticar o problema, é preciso difundir o conceito do bullying para que pais e orientadores escolares atentem para a tomada de iniciativas.
http://www.conexaoprofessor.rj.gov.br/temas-especiais-10.asp

Livros e Filmes


Nesta seção quero trazer sugestões de livros e filmes que falam de bullying, não necessariamente teóricos. Livros da literatura infanto-juvenil que poderão ser usados para reflexão sobre o tema. Filmes também que sensibilizam para o assunto.
Quero contar com a colaboração dos visitantes no sentido de indicarem livros e/ou filmes que já foram usados com este objetivo.

1. Pinote fracote, Janjão o fortão, de Fernanda Lopes de Almeida.

2. Ponte para Terabítia, de Katherine Paterson, Editora Salamandra. Um livro lindo, sensível, escrito com maestria pela ganhadora da medalha Hans Christian Andersen, o mais importante prêmio internacional no campo da literatura infanto-juvenil. Narra a história de Jess Aarons e sua amizade com Leslie Burke, uma novata na vila e na escola. Apresenta as dificuldades e os medos destes meninos, de 10 anos, algumas situações de bullying no colégio e no ônibus escolar.
Também está disponível em vídeo, que ainda não assisti mas que certamente será um excelente material para trabalhar o tema. O livro é um exemplo de como a literatura para crianças e jovens pode ser bem escrita e agradável.
Acabei de assistir ao vídeo e gostei bastante. Como sempre, o livro é melhor porque mostra melhor os sentimentos do personagem principal, Jess. O filme relata bem claramente algumas situações de bullying vividas pelos garotos e a importância de uma boa amizade servindo de pára-raios. É muito bem feito, explora um pouco o fantástico e será certamente uma boa diversão para os alunos.

3. Morango Sardento, de Julianne Moore, Ed. Cosac Naify, 2010. O livro foi escrito pela famosa atriz e se baseia em sua infância. Conta a história de uma menininha sardenta e ruiva que sofria bullying na escola por ser diferente. É um livro bonito, bem ilustrado. O sofrimento da garota fica bem nítido mas acho que a solução para o caso e a reviravolta nos seus sentimentos não convencem muito. Mas sem dúvida é mais um bom material para se trabalhar o tema com crianças menores.

4. Bullying – Vamos sair dessa?, de Miriam Portela, Ed. Noovha America, 2009. Bom livro, trata o assunto de maneira clara, entremeando com cenas de ficção. Pode ser um bom subsídio para os professores e educadores, de leitura fácil. Pode também ser usado como material para adolescentes, possibilitando um bom esclarecimento sobre bullying, tanto como ocorre no cotidiano como em seu aspecto mais teórico.

5. Bullying, Vamos mudar de atitude!, de Jefferson Galdino, Ed. Noovha America, 2009. Bom livro para adolescentes mais jovens. Narra o caso de Joca, um menino para quem a escola era uma verdadeira tortura. Mostra também as ações empreendidas para combater o bullying dentro da escola, com o envolvimento de toda comunidade.

6. Valentões, fofoqueiros e falsos amigos – Torne-se à prova de bullying, de J. Alexander, Ed. Rocco Jovens Leitores, 2009. Livro bastante interessante, em que a autora pretende ensinar formas de se fortalecer e “criar um escudo à prova de bullying”. Bem ilustrado e contém vários testes que despertam a curiosidade dos leitores.

7. Pedro e o menino valentão, de Ruth Rocha, Melhoramentos, 2009. Ruth Rocha, grande autora da literatura infantil no Brasil, nos traz uma boa historinha para crianças sobre a perseguição de um menino por um mais velho. A solução encontrada pela família foi colocar o filho na aula de judô. O ideal é aprender a revidar? O judô aumentou a confiança da criança e ele se sentiu mais forte? Bons temas para serem refletidos com os alunos e filhos!

8. Ela disse, Ele disse, de Thalita Rebouças, Rocco Jovens Leitores. 2010. O livro é bem escrito, de leitura muito agradável para adolescentes. Tanto que vou colocar a resenha que minha filha adolescente fez para a escola:
“Ela disse, Ele disse (Thalita Rebouças) é um livro que fala sobre situações cotidianas da maioria dos adolescentes e pré adolescentes. Narrado por Rosa e Léo, o livro mostra o modo de pensar de meninos e meninas, a reação dos dois sexos a uma mesma situação.
Os dois são novos no colégio. Rosa vem de Vitória – ES, enquanto Léo vem de outra escola do Rio de Janeiro, e os dois buscam fazer novas amizades. Para Léo, se enturmar foi muito mais fácil, porque entrou no time de futebol. Já para Rosa, foi um pouco mais complicado, mas nada que a tenha atrapalhado por muito tempo.
Mesmo que sem admitir, Rosa havia se apaixonado por Léo, que também sentia algo por ela. Mas, Júlia (amiga de Rosa) também se sentia atraída por ele e não deixava que essa “atração” passasse despercebida, o que irritava Rosa.
Quando Léo decide defender um amigo diante de um dos meninos mais populares da escola, seus antigos “amigos” se revoltam contra ele e o perseguem. Léo sofre bullying até que decide encarar os agressores e briga com o menino popular. Depois de enfrentá-lo, o vídeo da briga vai para o YouTube e Léo passa a ser idolatrado por muitos da sua escola.
Aos poucos, Léo e Rosa vão assumindo o que sentem um pelo outro e passam a viver um romance adolescente.”

9. Lilás, uma menina diferente – de Mary Whitcomb, Cosac Naify, 2003. Lilás é uma menina nova na escola, com hábitos muito diferentes e que é olhada com certa resistência pelos colegas devido às suas esquisitices. No entanto, demonstra uma grande resistência e se faz aceita pelo grupo. Livro muito bom para se trabalhar a diversidade, a aceitação e convivência com a diferença. Muito bom para crianças da Educação Infantil e primeiros anos do Ensino Fundamental.

10. Laís, a fofinha, de Walcyr Carrasco, Editora Ática. Acaba de ser lançado, ainda não li, mas já fica como sugestão.


Editora Ática lança ‘Laís, a fofinha’


A Editora Ática acaba de lançar o mais novo livro da Coleção Todos Juntos, de Walcyr Carrasco. ‘Laís, a fofinha’ trata, de maneira sutil e adequada às crianças, temas atuais e preocupantes como autoestima, bullying e obesidade infantil, por meio da história de uma menina gordinha que sofre com gozações e apelidos dos colegas da escola.
De tanto ouvir as outras crianças a chamarem de gorda, Laís acaba acreditando que é feia e se fecha em sua tristeza. Mas quando surge a oportunidade de realizar o sonho de ser atriz, a menina precisa de coragem para se aceitar como é.
A atriz Julia Lemmertz participou do lançamento e recomenda o livro. “‘Laís, a fofinha’ fala, de uma forma bem bonita e delicada, das diferenças entre as pessoas. Nem todo mundo é igual e a beleza não é uma só: existem várias formas de ser bonito. Este livro ajuda as pessoas a aceitarem as diferenças. Por isso recomendo, inclusive para que os pais leiam junto com seus filhos”, disse a atriz.

Ficha técnica
Título: Laís, a fofinha
Coleção: Todos Juntos
Autor: Walcyr Carrasco
Faixa etária: a partir de 5 anos (leitura acompanhada)
Páginas: 40
Formato: 23 x 28 cm
Preço: R$ 26,90

10. A Caolha, conto de Júlia Lopes de Almeida (1862-1934), in Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século, Editora Objetivo, RJ, 2000.
Bom conto para ser trabalhado com alunos do Ensino Médio, mostrando que o bullying já existia no início do século passado. Descreve o sofrimento de uma criança e depois rapaz que, por ser filho de uma mulher sem um olho, recebeu o apelido de filho da caolha.
A seguir um trecho do conto:
“Quando em criança entrou para a escola pública da freguesia, começaram logo os colegas, que o viam ir e vir com a mãe, a chamá-lo – o filho da caolha.
Aquilo exasperava-o; respondia sempre.
Os outros riam-se e chacoteavam-no; ele queixava-se aos mestres, os mestres ralhavam com os discípulos, chegavam mesmo a castigá-los – mas a alcunha pegou, já não era só na escola que o chamavam assim.”

http://bullyingnaoebrincadeira.com.br/?page_id=1063




Instruções


A prova de Redação apresenta duas propostas de construção textual. Para produzir o seu texto, você deve escolher um dos gêneros indicados abaixo:

A – Artigo de opinião
B – Carta de leitor

O tema é único para os dois gêneros e deve ser desenvolvido segundo a proposta escolhida. A fuga ao tema anula a redação. A leitura da coletânea é obrigatória. Ao utilizá-la, você não deve copiar trechos ou frases sem que essa transcrição esteja a serviço do seu texto. Independentemente do gênero escolhido, o seu texto NÃO deve ser assinado.

Tema - O bullying escolar: como distinguir os limites entre a brincadeira e a intimidação?

Coletânea



1. Jovens enfrentam ofensas e violência no mundo virtual

Tipo de agressão via internet, o "cyberbullying" atinge 46% dos 510 jovens que responderam à enquete da ONG Safernet.
Vítima de ofensas na escola, Taiguara Chagas, 20, atua em peça como jovem que é encorajado por outros na internet a cometer suicídio.
Alice (nome fictício) tinha 17 anos e cursava o ensino médio no colégio Faap, em Higienópolis (zona oeste de SP). Estava havia dois anos na escola quando descobriu que haviam sido criadas anonimamente duas comunidades no Orkut contra ela: "Eu odeio a tosca da Alice" e outra com referências preconceituosas ao Estado de origem de sua mãe.
Diante dos ataques, a estudante e sua família acharam melhor mudá-la de colégio. Lá, descobriram que a história tinha se espalhado. A solução foi mandar Alice para fora do país, enquanto eram tomadas providências legais para a retirada das páginas do ar e o rastreamento do autor ou dos autores.
Alice estava no centro de um caso de "cyberbullying", fenômeno que transfere para a internet as agressões típicas que estudantes mais frágeis sofrem dentro da escola. Enquanto o clássico "bullying" acontece na sala de aula, no playground e nos arredores do colégio, a versão virtual transcende os limites da instituição de ensino.
As hostilidades se potencializam na rede mundial de computadores, diante da facilidade atual de criar páginas e comunidades na internet. E-mails anônimos, mensagens de celular injuriosas, blogs ofensivos e vídeos humilhantes – todos fazem parte da violência virtual.
"No mundo real, a agressão tem começo, meio e fim. Na internet, ela não acaba, fica aquele "fantasma'", compara Rodrigo Nejm, psicólogo e diretor de prevenção da SaferNet Brasil.
O resultado preliminar de uma enquete sobre segurança na internet realizada no site da ONG assusta: 46% dos 510 adolescentes e crianças que responderam ao questionário afirmam que foram vítimas de agressões na internet ao menos uma vez; 34,8% dizem que foram agredidos mais de duas vezes. Dos participantes, 31% são do Estado de São Paulo, onde há o maior número de relatos segundo a SaferNet.
Os ataques a Alice começaram em 2005, mesmo ano em que a mãe da jovem acionou a Justiça. "A adolescente estava completamente abalada quando chegou ao escritório", recorda o advogado que a defendeu, José Luis de Oliveira Lima, 42.
A polícia conseguiu chegar ao computador, que originou as comunidades, de uma colega de classe de Alice. Só havia uma relação entre as duas: Alice era a melhor amiga do então namorado da autora do "cyberbullying".
BALSEMÃO, R. Jovens enfrentam ofensas e violência no mundo virtual. Folha de S. Paulo, São Paulo, 5 out. 2008. Cotidiano, p. 3.


2. Que graça, tão espertinho

Os pais permitem que a criança perceba seu poder de dar orgulho e que assuma atitudes cada vez mais ousadas.
HÁ UMA frase que passou a ser muito popular entre os pais: "Meu filho nasceu com um chip diferente". Existe uma crença atual generalizada entre as pessoas que têm filhos de que o seu rebento é precoce para a idade que tem. Uma dessas mães me disse uma frase bem-humorada que expressou muito bem tal convicção: "Eu não sou mãe coruja, eu tenho razão".
Muitos adultos têm dito que as crianças mudaram muito. Acreditam que, agora, elas têm vontade própria para quase tudo e que sabem escolher, que têm "personalidade", ou seja, que sabem impor seus pontos de vista e opiniões, que não aceitam muitas restrições e que conversam sobre os assuntos mais variados com a naturalidade e a propriedade de um adulto, entre outras coisas.
Esse pensamento geral exige uma reflexão, já que as crianças continuam sendo crianças como sempre foram, desde que a infância foi inventada. O que mudou muito foi o mundo em que as crianças vivem hoje. E, claro, mudaram seus pais e o modo como eles tratam seus filhos. E uma dessas mudanças, em especial, merece toda a nossa atenção. Eu me refiro ao modo como muitos pais permitem que seus filhos os tratem.
Quem frequenta o espaço público e observa o relacionamento entre pais e filhos certamente já presenciou, e não raras vezes, crianças de todas as idades e adolescentes tratarem seus pais com agressividade, grosserias, gritos e palavrões.
[…]
Temos algumas pistas que nos ajudam a entender como se constrói tal quadro. A primeira pista foi citada logo no início. O fato de os pais considerarem seu filho esperto permite que essa criança perceba o poder que tem de deixá-los orgulhosos e, pouco a pouco, vá assumindo atitudes cada vez mais ousadas na relação com eles e, consequentemente, com os adultos de modo geral.
A segunda pista está localizada no lugar que muitos pais querem ocupar em relação ao filho. Mais do que pais, querem ser seus amigos. Isso não dá certo, já que amigo ocupa sempre um lugar simétrico ao da criança ou jovem e, nesse caso, não há lugar para autoridade. Os pais podem, isso sim, ser pais amigáveis, mas nunca amigos dos filhos. O comportamento juvenil dos pais, independentemente da idade que tenham, também contribui muito para que os filhos os vejam como seus pares e não como seus pais.
Finalmente, a falta de paciência e disponibilidade para corrigir quantas vezes forem necessárias as atitudes desrespeitosas do filho faz com que pais relevem ou ignorem as pequenas atitudes cotidianas que os filhos têm e que expressam grosseria ou agressividade, quando não violência. O problema é que o crescimento desse tipo de comportamento ocorre em espiral, não é verdade?
Se não cuidarmos para que os mais novos aprendam a valorizar e respeitar a vida familiar, seus pais e os adultos com quem se relacionam, logo teremos notícias de um novo fenômeno: a intimidação, o famoso "bullying", só que as vítimas serão os pais, e os praticantes, os filhos.
SAYÃO, Rosely. Que graça, tão espertinho. Folha de S. Paulo, São Paulo, 17 de ago. 2010. p. 1. Equilíbrio.


3. Como lidar com brincadeiras que machucam a alma

Sabe aqueles apelidos e comentários maldosos que circulam entre os alunos? Consideradas "coisas de estudante", essas maneiras de ridicularizar os colegas podem deixar marcas dolorosas e por vezes trágicas. Veja como acabar com o problema na sua escola e, assim, tirar um peso das costas da garotada
A criançada entra na sala eufórica. Você se acomoda na mesa enquanto espera que os alunos se sentem, retirem o material da mochila e se acalmem para a aula começar. Nesse meio tempo, um deles grita bem alto: "Ô, cabeção, passa o livro!" O outro responde: "Peraí, espinha". Em outro canto da sala, um garoto dá um tapinha, "de leve", na nuca do colega. A menina toda produzida logo pela manhã ouve o cumprimento: "Fala, metida!" Ao lado dela, bem quietinha, outra garota escuta lá do fundo da sala: "Abre a boca, zumbi!" E a classe cai na risada.
O nome dado a essas brincadeiras de mau gosto, disfarçadas por um duvidoso senso de humor, é bullying. O termo ainda não tem uma denominação em português, mas é usado quando crianças e adolescentes recebem apelidos que os ridicularizam e sofrem humilhações, ameaças, intimidação, roubo e agressão moral e física por parte dos colegas. Entre as consequências estão o isolamento e a queda do rendimento escolar. Em alguns casos extremos, o bullying pode afetar o estado emocional do jovem de tal maneira que ele opte por soluções trágicas, como o suicídio.
Pesquisa realizada em 11 escolas cariocas pela Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (Abrapia), no Rio de Janeiro, revelou que 60,2% dos casos acontecem em sala de aula. Daí a importância da sua intervenção. Mudar a cultura perversa da humilhação e da perseguição na escola está ao seu alcance. Para isso, é preciso identificar o bullying e saber como evitá-lo.
CAVALCANTE, M. Como lidar com brincadeiras que machucam a alma.
Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/crianca-eadolescente/comportamento/como-lidar-brincadeiras-431324.shtml>. Acesso em: 15 set. 2010.


4. Brincadeiras perversas

O bullying é caracterizado por violência recorrente, desequilíbrio de poder e intenção de humilhar; a prática, frequente nas escolas, pode levar as vítimas à depressão e ao suicídio.

A violência e seus impactos são temas frequentes nos debates nacionais e internacionais, especialmente quando se desdobram em tragédias que envolvem estudantes e instituições escolares. É fato que tais acontecimentos trazem à luz questões até então negligenciadas no passado, como a violência entre os estudantes.
Os trotes universitários, muitas vezes humilhantes e violentos, por exemplo, ainda são pouco discutidos e só ganham visibilidade quando os meios de comunicação veiculam cenas de barbárie.
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Ainda hoje, essas práticas são consideradas por muitos como ritos de passagem – e esperadas com certa ansiedade tanto por calouros quanto por seus parentes. Entretanto, aqueles que se dedicam ao estudo do tema concordam que se trata de um ritual de exclusão e não de integração. Deve ser considerado como um mecanismo de dominação fundamentado por discriminação, intolerância, violência e preconceitos de classe, etnia e gênero. O abuso de poder sua marca principal.
Em razão de atitudes agressivas e abusos psicológicos, sob a alegação de que se trata de “brincadeiras”, muitos estudantes se convertem em “bodes expiatórios” do grupo, desde a sua entrada no ensino superior até a sua conclusão e, em alguns casos, essa situação se estende na vida profissional. Os que se negam a participar da “interação” são sumariamente coagidos, intimidados, perseguidos ou mesmo isolados do convívio e das atividades dos demais.
No ambiente profissional essas práticas ocorrem tantas vezes que chegam a ser vistas como “normais”. De acordo com a frequência e a intensidade os atos podem se caracterizar como assédio moral. Há grande probabilidade de que suas consequências afetem a saúde mental de trabalhadores, comprometendo a autoestima, a vida pessoal e o rendimento profissional, resultando em queda da produção, faltas frequentes ao trabalho, licenciamentos para tratamento médico, abandono do emprego ou pedidos de demissão, alto grau de stress, depressão e, em casos extremos, suicídio.
No contexto familiar, a violência pode ser vista como “prática educativa” ou forma eficaz de controle, validada pela maioria que a presencia ou a vive, incluindo a própria vítima. Tanto no contexto profissional quanto na família há estreita ligação de dependência – afetiva, emocional ou financeira – entre os protagonistas. Isso faz com que as vítimas em geral se calem e carreguem consigo uma série de prejuízos psíquicos.
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Assassinato psíquico

É na análise das relações entre os adultos e na observação das interações de grupos de crianças na escola que se alarga nossa percepção sobre o círculo vicioso de abusos. O que antes se acreditava ocorrer apenas nas relações entre os adultos – descritas como padrões relacionais disfuncionais, abusive relationships – se verifica também entre as crianças com idade igual ou semelhante. Trata-se do bullying escolar: um conjunto de comportamentos marcados por atitudes abusivas, repetitivas e intencionais e pelo desequilíbrio de poder.
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Alguns motivos justificam o silêncio: o medo de represálias e de que os ataques se tornem ainda mais persistentes e cruéis; a falta de apoio e compreensão quando se queixam aos adultos; a vergonha de se exporem perante os colegas; o sentimento de incompetência e merecimento dos ataques; o temor das reações dos familiares, que muitas vezes incentivam o revide com violência ou culpabilizam as vítimas.
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Independentemente da idade dos envolvidos e do local onde ocorrem os assédios, parece haver entre aqueles que presenciam a situação certo grau de tolerância ou até mesmo de conivência. Em alguns casos, alegam que a vítima “merece” hostilidade por causa do seu comportamento provocativo ou passivo. Alguns chegam mesmo a rir e incentivar o que ocorre ao “bode expiatório” – uma atitude que fortalece a ação dos autores e sua popularidade. Outros temem ser o próximo alvo, preferindo, assim, fazer parte do grupo de agressores, o que garante a sua segurança na escola.
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É importante, porém, lembrar que estamos nos referindo a um comportamento repetitivo, deliberado e destrutivo, diferentemente de um comportamento agressivo pontual, numa situação em que a criança, na disputa de um brinquedo ou de seu espaço, ataca o outro com mordidas e socos ou com xingamentos e ameaças. Não nos referimos aqui às divergências de pontos de vista, de ideias contrárias e preconceituosas que muitas vezes redundam em discussões, desentendimentos, brigas ou conflitos sociais ou às disputas profissionais, em que o colega é visto como empecilho para uma promoção, por exemplo. Também não aludimos a pais que, em sua ignorância, aplicam “corretivos” nos filhos quando estes os desafiam, desobedecem ou desapontam.
Referimos-nos a uma ação violenta gratuita e recorrente, baseada no desequilíbrio de poder. É a intencionalidade de fazer mal e a persistência dos atos que diferencia o bullying de outras formas de violência. É por meio da desestabilidade emocional das vítimas e no apoio do grupo que os autores ganham simpatia e popularidade. A busca por sucesso, fama e poder a qualquer preço, o apelo ao consumismo, à competitividade, ao individualismo, ao autoritarismo, à indiferença e ao desrespeito favorecem a proliferação do bullying. E seu potencial de destruição psíquica não cessa com o fim da escolaridade ou da adolescência: se desdobra em outros contextos, num movimento contínuo e circular.
FANTE, C. Brincadeiras perversas.
Disponível em: . Acesso em: 15 set. 2010.


5. Bem-vindo ao Coliseu

Nos acostumamos a pensar que o Coliseu, uma das construções mais imponentes de Roma, era um local de sacrifício de cristãos e luta entre gladiadores. Servia ao ideal político do “pão e circo” e à cultura militar, uma vez que a maior parte dos gladiadores era composta de prisioneiros de guerra e bárbaros inaptos para a escravidão. Cada gladiador assinava um contrato de quatro anos durante os quais seria ensinado por um guerreiro mais experiente. Sobrevivendo a este período, seria coberto de glória e honra, recebendo dinheiro suficiente para comprar sua liberdade. Setenta e cinco mil pessoas podiam acompanhar o espetáculo dividido em três partes: pela manhã, armavam-se cenários de florestas com ursos, leões e tigres que seriam abatidos por caçadores. À tarde, representavam-se versões teatrais de mitos gregos e romanos. Criminosos e condenados eram forçados a fazer, por exemplo, o papel de Prometeu acorrentado, que tinha seu fígado comido pelas feras (voadoras e terrestres), cumprindo assim, como podemos imaginar, cenas de grande realismo. Ao final do dia, vinham as lutas entre gladiadores, divididos em níveis de dificuldade e experiência.
A imensa maioria dos candidatos não chegava jamais a lutar em público, fenecendo durante os treinamentos. Menos de um por cento ganhava liberdade e cidadania romana. Mas bastava que um único tivesse alcançado este feito para que o sistema funcionasse.
A parte menos conhecida desta cultura de espetáculo, cujo centro era o Coliseu romano, reside no fato de que tais práticas eram educativas. Crianças eram trazidas regularmente, sob a guarda de seus tutores e mestres, para extrair ensinamentos “práticos” sobre a ordem social e a importância da luta pela sobrevivência. Havia lugares específicos para o público: mulheres no alto (para que o olhar impudente dos gladiadores não gerasse filhos indesejados), imperador ao centro, patrícios ao lado, plebeus abaixo e assim por diante. A distribuição dos ritos também obedecia a uma intenção pedagógica: as caçadas exprimiam a luta do homem contra as bestas da natureza; as representações teatrais, a contenda do homem contra o destino e a lei; finalmente os gladiadores encenavam o conflito de homens contra homens, ou, ainda, a batalha para passar de menos do que um romano para mais do que um cidadão. Pode-se argumentar que os motivos funcionais para o melhor aproveitamento do espaço fizeram os romanos converter o anfiteatro grego, aberto, no teatro romano oval, fechado, mas há mais que isso. Há uma política de fronteiras diferente em cada caso. A fronteira fixa, porém aberta, dos gregos é substituída pela fronteira móvel, mas fechada, dos romanos.
A arena de nossos dias
Para aquele que não veio a Roma fica o convite. Para aqueles que gostariam de reviver a situação do Coliseu sem sair de casa, basta aproximar-se para uma conversa franca com um de nossos adolescentes de classe média. Se você não se fizer nem de imperador nem de patrício, logo começará a reconhecer os perigos e dificuldades para sobreviver ao sistema de exclusão interna no qual o conflito escolar administrado se transformou. Há os populares, que, por direito divino ou nascimento, fazem parte do Senatus Populusque Romanus (SPQR). Há os gladiadores experientes, capazes de se impor pela força ou pela repetência. Há os candidatos a mártir e a grande maioria de nerds que se contenta em escapar das grandes encenações diárias de escárnio e maldizer, suportando sua quota de sacrifício moral por meio de desdobramentos e exercícios “espirituais”, sejam eles baseados em animés japoneses, séries de filmes ou seriados.
Descendentes dos antigos CDFs, os atuais nerds não devem ser confundidos com adolescentes que se identificam demasiadamente com os ideais de desempenho e adaptação. Há nerds bonzinhos, há os BVs (bocas virgens), há aqueles que se reúnem em subcomunidades de resistência, em torno da música, do esporte ou de práticas menos auspiciosas. Há os que são diariamente lançados às feras. Um pequeno detalhe, como o uso da blusa por baixo das calças, pode levar ao “suicídio social” representado pela anátema de ser zoado. O termo pode significar seu contrário, andar com roupas zoadas (pronuncia-se zuadas) pode ser sinônimo de personalidade e audácia, bem como falta de gosto em estado terminal.
Há aqueles que não são realmente nem populares nem nerds. Meninas que se “disfarçam” de populares, ou seja, seguem o estilo e consomem o que deve ser consumido, pelo profundo temor de exclusão. Isso se estende ao mercado das trocas de ficantes, quase ficantes, não ficantes e repudiantes. Dissemina-se nas vidas virtuais, nos modos de administração do corpo (massivamente anoréxico) e nas experiências escolares, segundo três lemas fundamentais: (1) sobreviver à exigência do desempenho escolar; (2) conquistar admiração e respeito dos colegas; e (3) discriminar qualquer diferença que possa voltar-se contra si. [...]. Ver seu pai separar-se da mãe para iniciar um romance com um aluno é imensamente menos problemático do que ser zoado por isso na escola. A lógica do preconceito é uma operação que começa pela articulação formal de uma diferença, sem qualquer conteúdo ou valência veritativa. É como um apelido, que funciona pela sua eficácia pragmática (pela reação que ele causa), e não pela referência que ele presume.
Muito da chamada apatia adolescente de nossos novos gladiadores não é de fato apatia, mas introjeção de uma atitude defensiva de não reação, ou seja, indiferença forçada a serviço da não exclusão.
[…]
Talvez o bullying em nossas escolas esteja crescendo e a tendência é que cresça mais ainda, como expressão do excesso de administração das formas de vida cujo único limite sancionado seja a lei formal. Dentro das fronteiras internas, não há moral que resista à formação de novos gladiadores. Aliás, a denúncia e o apelo à “justiça comum” representada pelas instâncias escolares competentes significam que a moral da força e da sobrevivência, que forma e define o grupo adolescente, foi rompida, com custos muitas vezes irreparáveis. O problema é interessante porque nos convida a pensar uma solução diferente da habitual transferência de competência moral para uma instância que regulamente o comportamento. É preciso reconhecer a gramática própria na qual se dá o confronto e o sofrimento expresso pelo assédio moral entre adolescentes, o que significará abdicar da facilidade representada pelos nossos meios consagrados e inequivocamente precários de legislar sobre eles, meus caros patrícios e imperadores.
DUNKER, C. Bem-vindo ao Coliseu.
Disponível em: . Acesso em: 15 set. 2010.


Propostas de redação


A – Artigo de opinião


O artigo de opinião é um texto escrito para ser publicado em jornais e revistas, e traz reflexões a respeito de um tema atual de interesse do grande público. Nesse gênero, o autor desenvolve um ponto de vista a respeito do tema com argumentos sustentados por informações e opiniões que se complementam ou se opõem. No texto, predominam sequências expositivo-argumentativas.
Imagine que você seja um estudante de Universidade e tenha sido indiciado judicialmente por ter ofendido e ridicularizado um calouro durante o trote universitário. Escreva um artigo de opinião para ser publicado em um jornal de circulação nacional, discutindo os diversos pontos de vista relativos à caracterização do bullying escolar. Utilize argumentos para convencer o leitor de que sua atitude e ações, naquele episódio, não podem ser consideradas formas de violência ou ataque.
Defenda seu ponto de vista acerca dos limites entre a brincadeira humorada e a hostilização do bullying, apresentando dados e fatos que o sustentem e possam refutar outros pontos de vista.


B – Carta de leitor

A carta de leitor é um gênero discursivo no qual o leitor manifesta sua opinião sobre assuntos publicados em jornal ou revista, dirigindo-se ao editor (representante do jornal ou da revista) ou ao autor da matéria publicada (quando o seu nome é revelado). Por ser de caráter persuasivo, o autor da carta de leitor busca convencer o destinatário a adotar o seu ponto de vista e acatar suas ideias por meio dos argumentos apresentados.
Suponha que você seja presidente da associação de pais das escolas do município de Goiânia e tenha se sentido incomodado com o texto “Que graça, tão espertinho”, de Rosely Sayão. Pelo fato de discordar das ideias da autora quanto ao relacionamento de pais e filhos, você resolve escrever uma carta para a seção de cartas de leitor de um jornal local. Trata-se, portanto, de uma carta de tipo persuasivo-argumentativo, em que você defenderá seu ponto de vista a respeito dos limites entre as brincadeiras familiares e a intimidação do bullying. Construa seus argumentos por meio de elementos persuasivos que possam convencer a autora e os leitores do jornal da isenção de responsabilidade dos pais nas práticas de bullying ocorridas nas escolas.


ATENÇÃO


Você não deve identificar-se, ou seja, você deve assumir o papel de um leitor fictício.
A sua carta NÃO deve ser assinada.



http://200.199.226.141/sistemas/sicon/download/Concurso%20002-2010-SME/SME%20-%20Caderno%20Questoes%20PE%20Pedagogia.pdf

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